17 fevereiro 2008

A aula da vida

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

A defasagem do calendário letivo do Cefet, por conta de paralisações pretéritas de servidores, permitiu ao professor, já conhecendo os alunos, conversar mais detalhadamente sobre o recesso em torno do Carnaval, antes de retomar os conteúdos programáticos. Neste processo, este articulista trouxe para o leitor, dois casos que demonstram, como a educação se mistura com a vida e, como é possível, despertar o aprendizado, a partir da realidade de vida do aluno.

Depois das boas vindas, um texto para engrenar os estudos. A aula era de gestão da produção. O artigo tratava da implantação de políticas chamadas de colaboracionistas e participativas, no aperfeiçoamento de gestão no setor público ou privado, na indústria ou na área de serviços.

Um tempo para leitura e ainda antes do espaço para o debate, um papo sobre a vida nos dias de recesso. A Alice perguntei como tinha sido a viagem com o marido peruano ao país dele. Instantes interessantes de exclamação e indagação de colegas e até do professor, sobre a realidade atual de um país latino. Costumes, cultura, emprego, universidade, um rápido passeio que abriu espaços para discutir como, o “modus vivendi” de determinadas populações são influenciadas pela mídia, pelo estímulo ao consumo e pela idéia preponderante do ter, ao invés do ser. Uma ponte com o texto que citava o livro “Construindo uma sociedade onde todos ganhem”, da Hazel Handerson que aborda a possibilidade de se mudar a concepção do consumir mais, para produzir mais, gerar mais emprego, como se não houvesse limites.

Voltando às experiências do recesso letivo, Sidimar, que trabalha numa empresa de embarcação contratada da Petrobras, relatou a trágica experiência, vivida na véspera, de um assalto à mão armada, ao voltar para casa, no Parque São Mateus, numa kombi “pirata” à beira da BR-101.

Junto da análise da violência na região, o fato de ter ficado descalço por decisão dos assaltantes que quiseram seu tênis, junto de um estimado cordão, acabou levando a aula de volta ao tema da cultura do ter e não do ser. Assim, o tema da colaboração em ambientes de trabalho, previsto no conteúdo programático, pôde ser trabalhado num contexto real. Conclusões são pouco importantes num ambiente de sala de aula, onde, na maioria das vezes, o papel do professor é o de provocar, instigar e fazer pensar. Bom ano letivo a alunos e professores!

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 15 de fevereiro de 2008. As palavras ou frases em itálico completam o artigo publicado no jornal.

08 fevereiro 2008

O preto no branco das Cinzas

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

É comum que as Cinzas permitam que a gente possa ver melhor. Algo assim como o preto sobre o branco da realidade. Nossas cidades mudaram. Não são mais os inocentes territórios interioranos de até três décadas atrás.

O que de progresso e deterioração temos assistidos ao longo destes anos? O meio ambiente está cada vez mais dilapidado. A violência campeando, leva homens, mulheres e jovens, tanto em acidentes bárbaros e desnecessários nas vias urbanas e estradas, quanto nos homicídios bestas, originados em discussões sem nexo de bares e quiosques, nas áreas centrais ou periféricas.

O emprego público não é mais a ocupação romântica que os caciques políticos arrumavam para os seus cabos eleitorais. Agora ele foi democraticamente ampliado como alternativa, tanto para soldados, quanto para doutores. Agora muito mais que antes, ele mantém os currais de votos que sustentam o poder político, não mais oriundos das moendas, mas dos royalties extraídos na plataforma do mar, que antes eram apenas balneários de veranistas.

Temos mais médicos, professores e advogados, mas agora se adoece mais, aprende-se menos e diverge-se mais com tudo e todos. Temos mais e carecemos de cada vez mais. Os limites dos valores como a ética se parecem com aqueles velhos elásticos puídos e esgarçados pela insistência em ultrapassar seus alcances.

Assim, o saudosismo acaba sendo um legítimo e saudável exercício da quaresma que se pretenda renovadora. As caras novas tornam-se pálidas antes mesmo das assunções.
Nem a boa notícia do crescimento vertiginoso dos espaços de estudos, nos diferentes graus de ensino parece produzir ensinamentos e disposição de transformação.

Não se fala de pueris mudanças ou ingênuos sonhos de aperfeiçoamento das máquinas públicas, ou mesmo, dos empreendimentos que apesar de privados, cada vez mais se sustentam nas tetas gordas do dinheiro público que circulam em malas, malinhas e maletas.

Enfim, que em nossos pensamentos e orações das cinzas da quaresma, limitadas no tempo marcado nos relógios modernos, cravejados de diamantes dos doutores, nos dêem a fraternidade do perdão, mas especialmente, o desejo de que Deus nos livre e guarde de todo este mal.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 08 de fevereiro de 2008. As palavras em itálico no último parágrafo do artigo não saíram no jornal.

02 fevereiro 2008

Carnaval, violência e estatísticas

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

O simples fato de tentar mostrar relação entre as três já pode ser coisa de Momo, mas vamos em frente. No Rio, o Cordão do Bola Preta foi despejado de sua sede e, ainda assim, saiu na semana passada e voltará a sair amanhã. Reclamou a ajuda do poder público para quitar dívida que evitaria a liquidação de sua sede, mas mesmo sem, não deixou seus adeptos na mão.

Pois bem, em Campos foi o inverso. Faltando apenas quatro dias para o Momo, a prefeitura repassou o dinheiro às entidades carnavalescas. Questiono as entidades que dependem exclusivamente destes recursos para se manterem. Porém, o caso aqui é mais que isso.

A prefeitura informou na terça-feira, em seu próprio site, que uma das agremiações, a escola de samba "Os Independentes" apesar de ter recebido a verba de R$ 53.946,00 teria optado - pelo visto com a concordância do poder público - por não desfilar e assim utilizar o valor recebido na compra de uma sede própria.

Algo deve estar errado, ou então, o carnaval já começou e eu não sabia. A ajuda é para o desfile, porque se imagina que só pudesse receber ajuda as entidades já instituídas, mas não e... “me dá um dinheiro aí! Não vai dar? Não vai dar não? Você vai ver a grande confusão...”

Eu avisei que havia ligação entre carnaval, violência e estatística. Pois bem, estatística há para todo gosto e interesse. Tem gente que se apropria do PIB (Produto Ilusório Bruto) considerando que toda a riqueza do petróleo circula por aqui e não apenas a dos royalties.

A mais nova estatística na área surge igual a dos torcedores que levam faixas escritas para serem filmadas pelas TVs nas arquibancadas: “Eu já sabia”. Divulgada na quarta, o “Mapa da violência nos municípios” mostrou que Campos entre as mais de cinco mil cidades brasileiras como o terceiro maior índice (proporcional à sua população) em óbitos no trânsito.

Especialistas dizem que são grandes as chances de Campos subir, neste negativo ranking, com os números de 2007. Samba do crioulo doido nas estatísticas e no carnaval não é novidade para ninguém, a não ser para aqueles que duvidaram da falta de elo entre os temas do título.

Só que as coisas vão além, pois carnaval e violência estão também no mau uso dos recursos públicos que nenhuma estatística consegue dar conta. Enfim, Paz e bom carnaval a todos e... me dá, me dá, me dá um dinheiro aí!

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 01-02-08 sem o último parágrafo, eliminado por falta de espaço.

25 janeiro 2008

Complexos

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

É relativamente comum que pessoas de meia-idade, como este articulista, comecem a desenvolver certas manias. Uma delas é a de implicar com certas palavras. Assim, voltei ao hábito, salutar por sinal, de recorrer aos velhos e bons dicionários. Como se pode ver uma mania se liga a outras.

Hoje minha implicância é com o termo complexo. Não falo da palavra quando relacionada à confusão ou complicação, ou algo que o valha explicado lá no Aurélio.

A minha invocação é sobre o termo que os empreendedores passaram a adotar para os investimentos, segundo eles, de maior porte. Porém, maior é maior e, não necessariamente, complexo. Assim está surgindo o Complexo Petroquímico do estado do Rio de Janeiro (Comperj) que quase foi em Guriri e acabou em Itaboraí. Agora o Complexo Portuário do Açu.

Aproveito o parêntese para pensar junto com você leitor: teria sido para a região, em termos de investimentos, uma boa, esta troca de complexos, ou melhor, de empreendimentos?

O tempo dirá. Porém, mais uma vez recorrendo à análise do tempo, que é aquilo que chamamos de história e que nos ajuda a imaginar o futuro, fico a analisar sobre a forma que nossa região está entrando na era da globalização.

Na época da cana o senhorzinho plantava, colhia, esmagava e cozinhava a cana em busca do açúcar produzido com a ajuda dos escravos e depois dos baixos assalariados. Desde lá, seus ganhos eram negociados pelo vil metal, nos distantes escritórios do Rio.

O petróleo do litoral da nossa Baixada vai direto para os mercados globais, também negociados bem longe. Por aqui ficam somente os trocados sob a forma de royalties.

Os tempos se modificaram junto com os complexos, mas a historinha continua na sua marcha. Complexos hoje são negociados, antes mesmo de serem construídos. Mudam as pessoas, mantém-se a história: ganham os mesmos que ganhavam antes, não importando se o mercado está aqui ou acolá.

Talvez seja mesmo um problema de complexo, não de inferioridade, mas de ideais: o de que os frutos do desenvolvimento fossem repartidos. Enfim, melhor ser menos complexo, embora permaneça a madura implicância com a palavra.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 25 de janeiro de 2007.

18 janeiro 2008

Postura e im-postura

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

“Uma cidade é algo mais que o somatório de seus habitantes, é uma unidade geradora de um excedente de bem estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem – independente de outras razões – viver em comunidade a viverem isoladas.”
CULLEN, Gordon, em Paisagem Urbana.

O dicionário do Aurélio define postura(s) como sendo um “conjunto de preceitos municipais que obriga os munícipes a cumprirem certos deveres de ordem pública”.

A organização e a ocupação do solo das cidades é atribuição dos representantes políticos que por delegação popular ocupam os cargos executivos e legislativos, cabendo a estes últimos, as responsabilidades de criar leis e normas que possam garantir e assegurar, a plena realização das funções sociais e econômicas de um município garantindo assim, o exercício do direito de cidadania e de bem-estar a seus habitantes.

Apesar da gestão urbana ser de responsabilidade dos três níveis de governo: união, estados e municípios, é sobre este último que recai as maiores competências que asseguram o “bem estar e a vida em comunidade”, aspiradas por Gordon e por todos nós.

Nos primórdios da gestão urbana, o chamado Código de Posturas Municipal, agrupava documentos que reuniam o conjunto das normas municipais, em todas as áreas de atuação do poder público. Com a evolução da vida em sociedade, as atribuições do poder local passaram a ser regidas por leis específicas desdobradas do Plano Diretor. Assim, o Código de Posturas ficou restrito, às demais questões de interesse local, notadamente aquelas referentes, ao uso dos espaços públicos, ao funcionamento de estabelecimentos, à higiene e ao sossego público.

Neste sentido, o desejo de ver uma cidade planejada, bem arrumada, cuidada, com espaços específicos destinados ao lazer e ao sossego de forma coletiva é um direito de todos, enquanto, o planejamento de projetos, programas e ações em prol da boa convivência é dever do gestor.

Nesta linha, não há que se falar em pretensões de punição e nem de perseguição. Deve haver sim, o dever de garantir o bem estar e as facilidades da maioria, para que a vida em comunidade seja, se não agradável, ao menos, suportável. Bom que em Campos, tenham se interessado em refazer o antigo código. Porém, ouso dizer, que nosso maior problema é sim, o interesse em aplicá-lo. O fisiologismo e o eleitoralismo não deixam. Não há quem tenha coragem.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 18 de janeiro de 2007.

11 janeiro 2008

O cheiro

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

De todos os sentidos humanos guardo maior simpatia pelo olfato. Não quero com isso dizer que abriria mão, de algum dos outros, em prol do cheiro. Trata-se de simpatia mesmo, ou quem sabe, de personalidade. Através dele volto ao passado, revivo ambientes, pessoas e situações mais até mesmo, do que com a visão e a audição usados, por exemplo, para ver fotos e vídeos.

Já devem ter percebido que prefiro referir ao cheiro ao seu sinônimo: o olfato. É mais claro, direto e simples. Pois bem, o cheiro me transporta a momentos da infância, da adolescência, da juventude e a situações vivenciadas que qualquer um dos outros sentidos.

Já me peguei rindo sozinho, diversas vezes, ao passar por determinado local que me fizesse entrar neste túnel do tempo. Cheiro de Natal, cheiro de bolo na cozinha da infância. Cheiro de bola de couro nova. Cheiro de figurinhas. De pão assado direto na boca do fogão. O aroma (outro apelido sofisticado do cheiro) de pipoca na praça, etc.

Tem gente que associa cheiro apenas às comidas. Verdade que muita gente usa o olfato para escolher comidas. Algumas até são mais saborosas no cheiro do que no sabor. O melão campista talvez seja o exemplo mais evidente. Também já me peguei relembrando a juventude com cheiro de flores presentes no jardim da casa dos meus pais no Turfe. Cheiro de terra no início da tempestade. Cheiro da madrugada e dos primeiros minutos da manhã.

Quem nunca invejou o cheiro de churrasco feito pelo vizinho? Por falar em inveja lamentei por um amigo quando ele comentou, durante um almoço, ter perdido quase que completamente seu olfato numa cirurgia para correção dos problemas de uma sinusite crônica. Cheiro de dinheiro novo, de carro novo, de roupa velha, etc. levam aos questionamentos sobre a riqueza e a miséria... Cheiro do ralo, do sexo, do neném são buscas que ficam cada vez mais longe do que se procura.

O cheiro tem esta outra virtude. A maioria deles é difícil de ser buscada ou comprada como um perfume. Eles aparecem sem serem chamados ou desejados. Surgem numa esquina, num almoço, durante uma aula ou uma pregação religiosa e aí se instalam como trailers de filmes já protagonizados. Quase sempre são segredos que cada um de nós guarda com certa vergonha de expor. Fora os bons odores, não há como deixar de registrar o crescente mau cheiro exalado em torno dos royalties na nossa cidade. Xô, catinga!

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 11 de janeiro de 2007.

07 janeiro 2008

Oportunidades e ameaças pairam sobre o Açu

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Há um frisson sobre a repercussão que o Complexo Portuário do Açu poderá trazer para a nossa região. Os lançamentos de novos empreendimentos imobiliários, assim como os valores dos aluguéis na região estão ainda mais caros, do que já estava há seis meses atrás.

Não há dúvidas de que há gente interessada, na repercussão do que será efetivamente montado, na retroárea de 6,9 mil hectares que o grupo MMX conseguiu que a prefeitura de São João da Barra considerasse como área, de um distrito industrial no novo Plano Diretor do município.

Verdade que para o desenvolvimento regional, o porto é um investimento com capacidade de se sustentar na era pós-royalties. Além disso, um porto, na sociedade internacionalizada em que vivemos, com negócios intercontinentais crescentes, é uma janela para o mundo que permite levar e trazer oportunidades.

Melhor ainda, se à sua logística, for efetivamente estruturada, o eixo modal unindo o transporte marítimo, ferroviário, rodoviário e o aeroviário. Este último, quase ao lado do porto, terá o aeroporto que a Petrobras começará a construir neste início de ano. Com pista com capacidade de receber grandes aviões, ele substituirá o vizinho e já congestionado heliporto.

Mesmo preferindo investimentos de pequenos e médios portes, por ver neles, maior capacidade de geração de emprego e especialmente, menor impacto ambiental e maior aproveitamento da sociedade local, lembro, que nem de longe, um empreendimento de grande porte como este, tem capacidade de substituir, as receitas atuais dos royalties.

Verdade também, que este investimento de vulto trará para cá, milhares de pessoas, algumas inclusive aqui já estão trabalhando nas máquinas de terraplanagem e muitos outras virão demandando habitação, saneamento, educação e saúde que será disputada, com quem aqui já está excluído das oportunidades, seja por inépcia, falta de qualificação e/ou tutela eleitoral.

Se existir vontade de conciliar vantagens, aproveitar oportunidades, neutralizar ameaças e compensar impactos, os gestores públicos locais deveriam se integrar e traçar um plano de ação com metas, obrigações e responsabilidades. Fazer isso em meio à disputa eleitoral que se avizinha é um desafio a ser vencido. Fora disto teremos o desfecho conhecido: ganham os que sempre ganharam e perdem os que sempre perderam!

PS.: Publicado em 4 de janeiro de 2008 na Folha da Manhã.

31 dezembro 2007

Pedidos para o Ano Novo

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
Email: moraes.rol@terra.com.br

Não há quem não pense alguns minutos, pelo menos, nos saltos dados e nas quedas sofridas a cada ano que se encerra. É normal olhar para trás, ao mesmo tempo em que se vislumbra o novo ano, com desejos de novos e otimistas saltos.

Bom renovar as esperanças com as quais vivemos e sem as quais a morte é certa. Elas não são orientadas pelo calendário, mas isto pouco importa nesta época de festas e comemorações.

Olhando nesta direção, este articulista não será original ao escrever ficticiamente ao novo ano com uma lista de desejos:
1) Melhor uso dos recursos públicos em políticas de inclusão e ascensão social; 2) Mais solidariedade e menos hipocrisia; 3) Menos consumo e mais repartição; 4) Mais empregos e menos agressão ao meio ambiente; 5) Menos empreguismo e mais planejamento; 6) Mais cultura e educação e menos doenças; 7) Menos dependência dos poderes constituídos; 8) Mais capacidade de discernimento; 9) Mais força e determinação nas lutas, mesmo diante da repetição das causas; 10) Menos imposições, mais debates e democracia; 11) Um tribunal de contas que faça prova dos nove e não conta de somar; 12) Mais vergonha na cara.

Poderíamos prosseguir, mas é bom ficar por aqui. Na falta da dúzia de desejos listados, que, pelo menos, o último da lista possa se transformar, mesmo que parcialmente, em realidade.

Infelizmente, já não somos mais inocentes para acreditar em promessas. Talvez aceitemos compromissos, mas mesmo estes precisam ter interlocutores confiáveis.

O ditado popular afiança: Ano Novo. Vida Nova! Realmente, uma pena que não sejamos mais crianças, onde os ditados da minha querida e saudosa avó Maroca, no almoço ou no bate-papo do café, tinham mais valor do que até as chamadas cláusulas pétreas da Constituição.

A maturidade, quando muito, ajuda a discernir melhor os ganhos e as perdas valorizando-as pela qualidade e não pela quantidade. Tem gente que diz que isso é conversa de quem teve mais quedas que saltos nesta contabilidade de final de ano. Pois eu lhe garanto: esse não foi o caso deste articulista. Mesmo assim, melhor planejar e pedir que o novo ano nos dê saúde, fé e disposição. E de lambuja, se não for pedir demais, pequenas escadas para saltar sobre as quedas que fazem parte da vida e tornam os saltos mais saborosos. Feliz 2008!

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 28 de dezembro de 2007.

22 dezembro 2007

Saudade

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
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moraes.rol@terra.com.br

Ainda não saiu da minha cabeça a expressão dita por Chico Anísio, numa entrevista não sei onde e nem quando, em que o comediante afirmou que a saudade era uma coisa que não servia para nada e, sendo assim, ele a dispensava. Não me recordo de ter lido o resto, ou a explicação para esta sua conclusão ou desilusão.

Num contraponto, desde daquele instante, também me impregnou o pensamento a expressão pós-morte, do professor Clóvis Tavares referindo-se a saudade como o metro do amor. Paradoxais ou pontuais, os conceitos podem reproduzir visões do mundo do qual deixaremos saudades ou esquecimentos.

Sempre imaginei que, independente da percepção que cada um de nós tem dos mistérios da vida e do natural fim dela, que é a morte, que a trajetória ou o rastro que cada um de nós deixa, é a marca que pode fazer com que a noção de valores e de ética possam ser práticas que valham à pena.

Neste exercício tem gente que consegue a proeza de sentir saudade do que ainda não ocorreu. Vêem os filhos grandes, enxergam netos, família e amigos em situações que desejam que logo cheguem, para aplacar a saudade futura - também confundida com ansiedade (que talvez seja irmã e antônima da saudade) – também guardam os receios de que o tempo de hoje será saudade amanhã.

Saudade boa e saudade ruim. Quanto mais próxima do passado que se sente saudoso, mais dolorida é a saudade. Qual a química que faz a saudade temperada com o molho das horas, dos dias e dos anos, deixar de ser preta e branco, para se transformar na cor suave da saudade colorida, mesmo que em tons, ainda pastéis, mas certamente mais leves e agradáveis? Quem inventou isso?

Quem consegue sentir saudade de um tempo que ainda não chegou é o otimista que todos admiramos e desejaríamos ser. Poucos sentem saudades dos pessimistas ou dos realistas que enxergam o futuro com olhos diferentes com que vêem o passado. Pessimistas apreciem o passado mais que o futuro.

Saudade é dor ou é alimento? Quando a sentimos normalmente reformatamos a visão de futuro e nos aplumamos na condução do presente. Saudade, melhor senti-la, do que desejá-la. Saudade melhor tê-la do que expulsá-la, porque assim, será ela sinônima de relações e rastros construtivos. Com ou sem saudades, Feliz Natal!

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 21 de dezembro de 2007.

20 dezembro 2007

Por quê “se calla?”

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
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moraes.rol@terra.com.br

A expressão “por qué no se calla”, popularizada pelo rei da Espanha contra o polêmico Chávez, cabe ao inverso, como uma luva, à indagação a ser feita à direção local do PT em Campos.
Como se sabe, o atual secretário de Saúde do município é o neo-petista, Rodrigo Quitete, que para o partido foi convidado, pelo ex-presidente, também médico e candidato da sigla nas eleições municipais de 2004, Mackoul Moussallém.

Todos poderiam imaginar que o PT, ao aceitar fazer parte do atual governo municipal, mesmo crivado de denúncias de mau uso dos recursos públicos, com investigações de tribunais de contas e policiais, para lá fosse encaminhar propostas e linhas programáticas do partido.

É certo, que seria impertinente, a exigência do estabelecimento da maioria, das propostas do partido, mas não é concebível, que nenhuma das propostas sejam, sequer apresentadas e/ou consideradas, num acordo que, aos olhos daqueles que desejam ver, apenas produziu, meia dúzia de nomeações de aliados e parentes das correntes que defenderam esta espúria aliança.

O caso da saúde é grave. O secretário é petista, por mais que isso seja difícil de crer. Portanto, os projetos, ações e problemas de sua pasta são problemas que o partido terá que explicar em praça pública. A crise é incompatível com o generoso orçamento de quase R$ 400 milhões anuais.

Este articulista não vai discutir a questão dos chamados “extra-tetos” e dos repasses de verbas para pagamento dos serviços prestados pelos hospitais filantrópicos e privados, pela simples falta de informações e transparência sobre o uso destes recursos.

O fato do município ainda não ser gestor-pleno na área de saúde, segundo informações, está também relacionado à falta de repasses de informações às instâncias superiores que gerem o SUS. Isso, na essência, seria a origem, da maioria dos questionamentos dos usuários, prestadores de serviços, médicos, enfim, de toda a sociedade.

Por tudo isso, e pela atenção especial que a área de saúde necessita ter dos seus gestores, aqueles que foram responsáveis, no PT de Campos, por entregar o partido, nos braços de um governo ineficiente e incompetente devem agora suspender o silêncio acorrentado a que se submeteram e que muitos avisaram e temeram. Enfim, todos queremos saber: PT de Campos, por quê “se calla?”.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 14 de dezembro de 2007.

08 dezembro 2007

Joe, razão de ser do Cefet

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
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moraes.rol@terra.com.br

O recorde de 16.276 candidatos, este ano, aos cursos técnicos do Cefet mostra, a corrida ao diferencial na disputa do mercado de trabalho que se expande a nível nacional e regional. Projetos de infra-estrutura e industriais no interior do nosso estado estão levando, não só os jovens, mas também os adultos, novamente às salas de aula e laboratórios atrás de conhecimento e certificação.

Além do ensino médio e técnico, o Cefet hoje tem mais de doze graduações ofertadas na sede ou nas Uneds de Macaé e Guarus, ou ainda nas unidades avançadas, de Arraial do Cabo, Quissamã e São João da Barra, enquanto as Uneds de Cabo Frio e Itaperuna são estruturadas.

O Cefet é hoje, na prática, em termos de concepção, um instituto com ofertas de formação não só tecnológica, como também humanística, nas licenciaturas e duas das quatro pós-graduações. O primeiro mestrado também inova com a interdisciplinaridade da engenharia ambiental.

A verticalização da formação não se deu, apenas para cima. Com a educação de jovens e adultos, o Cefet também atua na alfabetização, na qualificação e re-qualificação profissional e ainda em cursos técnicos com estrutura exclusiva para este segmento. No todo mais de doze mil alunos.

Institutos semelhantes existem funcionando em países com grande capacidade de investimentos, como o Canadá e a maioria dos países europeus. A inovação aqui é a capacidade de incluir segmentos da população que têm no estudo, a única possibilidade de ascensão social.

Um exemplo é a história de José Antônio Pinheiro Lima, o nosso Joe. Há seis anos Joe saiu da região Imbé. Andava a pé, mais de dez quilômetros para, diariamente, pegar ônibus e vir aqui estudar. Depois encontrou apoio de alunos amigos para aqui ficar durante a semana. Foi bolsista, perdeu os pais, repetiu uma série e quase desistiu quando viu, que não poderia dar o orgulho de sua formação aos pais. Ralou seis anos seguidos, fez mais de um curso, aproveitou oportunidades de cursos extras e há duas semanas foi contratado com salário de R$ 5 mil, além de apoio para continuar seus estudos em nível superior. O orgulho que Joe não pôde dar aos pais, ele gosta de passar para outros alunos, que com dificuldades idênticas, ameaçam desistir.

Joe fez questão de me procurar e dizer: “professor, o Cefet me deu as oportunidades e eu lutei muito para aproveitá-las. Acreditei e segui em frente. Agora estou feliz e vou prosseguir”. Mais satisfeito que Joe, concluí que o Cefet cumpre seu papel exemplarmente quando Joe passa a ser, não apenas um profissional qualificado, mas um cidadão consciente de seu dever na sociedade.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 7 de dezembro de 2007.

30 novembro 2007

A dor do pesca-dor

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
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moraes.rol@terra.com.br

Alguém já disse que não há dor maior que a da perda de um filho. A foto do Silésio Corrêa, neste jornal, na quarta-feira, também foi estampada nos demais jornais da cidade. Nas entrelinhas, o fato demonstra, que a cena imóvel e doída, deve ter permanecido estática um longo tempo, expondo a dor e a agonia do pai, o lavra-dor e pesca-dor de Barra do Furado, Magno Ribeiro da Silva.

Em posição desolada, Magno com a cabeça emborcada lamentava a perda de seu filho, Michel Ribeiro de Souza, de 15 anos, o mais velho, de um total de cinco filhos. Magno enquanto vivia a dor, que deve doer como um punhal atravessado no peito, possivelmente repetia para si mesmo, o que todos os pais dizem nesta situação: por quê?

Magno ainda disse ao repórter: “mesmo diante dessa cena triste, tenho que ser forte para dar apoio à minha família”. Nesta ótica, a dureza da vida se torna dobrada, pois além do sentimento de perda, terá a obrigação de tocar o barco, em meio à tormenta que lhe trouxe a dor ainda não lavrada.

A cena me fez lembrar a imagem do pai abraçado, ao corpo da filha, morta, num outro desastre automobilístico, ano passado, em que cinco jovens perderam a vida, na pista da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Gabriel F. Padilla, pai de Ana Clara lançou recentemente o livro “Relato de um amor” que vem fazendo sucesso entre os adolescentes e jovens.

O relato de Padilla, que é um publicitário, talvez ajude a fazer os jovens pensarem no que todos, quando temos aquela idade, irresponsavelmente fazemos, correndo o risco de marcar irremediavelmente, com a mais doída das dores, os pais que tanto amamos.

Magno sofre agora, tanto quanto o Gabriel Padilla, que disse em seu livro que “nossos filhos são como água nas mãos em forma de concha. Uma hora nos escorrem por entre os dedos”. A sua dor pescada fora d’água, numa beira da estrada, não mostra uma juvenil irresponsabilidade, mas a madura, dura e irresponsável realidade da violência do trânsito em nossa região.

O progresso material e econômico sonhado por muitos, ainda não chegou para esta região, mas a violência, em suas mais variadas formas, está sendo pescada por muitos, que com dor e lamento, vivem a vida que nossa região lhes proporciona.

Publicado na Folha da Manhã em 30 de novembro de 2007.

25 novembro 2007

Até os sheiks árabes já acordaram!

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Costumava ilustrar as palestras, em que sou convidado para falar sobre desenvolvimento regional, royalties, gestão e coisas do gênero, usando a figura, que todos nós já vimos na televisão, ou lemos nos jornais, sobre os grandes sheiks árabes que esbanjam os petrodólares, deitados em banheira de ouro, camas de diamantes, etc., gastando como se não houvesse amanhã.

Minha ignorância com o que está acontecendo naquela região obriga-me agora, a pedir penitências por acusações tão infames e injustas contra os árabes. Eu reclamava de que nossos gestores locais gastavam, tal qual, estes sheiks. Pois então, tenho que me redimir dizendo que uma boa parte deles, já mudou sua forma de tratar o dinheiro e olhar o futuro na era pós-petróleo.

Tenho me interessado mais pelo assunto, desde que um conterrâneo-amigo, Jorge Luiz, o Cebolinha, ex-jogador do Goytacaz e atual treinador de goleiros, para lá foi trabalhar no futebol, mais uma vez, compondo a comissão técnica do comandante Tite.

O caso dos Emirados Árabes Unidos é o que mais chama a atenção, especialmente depois que no início de outubro foi implantada, uma linha regular de vôo pela Emirates Airlines, entre Dubai, um dos sete Emirados Árabes Unidos e a cidade de São Paulo.

Ontem, o caderno de turismo do jornal O Globo mostrou as maravilhas daquela região que decidiu investir no turismo, como forma de se sustentar, após o fim do petróleo.

Antes apenas uma tribo no deserto à beira-mar, hoje os Emirados já se constituem num importante centro de comércio de todo o Oriente Médio que tem Dubai, como sede do maior destino turístico da região que hoje, já recebe nove milhões de turistas por ano.

Lá uma única família Maktoum controla o poder desde a vida tribal até os dias atuais. Aqui a derivação talvez seja, apenas, um pouco maior. A mania de grandeza não foi de toda abandonada. Para chamar a atenção inventaram o mais alto prédio do mundo com quase um quilômetro de altura.

Vencida a ignorância, terei que mudar o discurso, do mau exemplo, no uso do dinheiro dos royalties do petróleo, mantendo a pressão para que nossos sheiks, assim como os árabes, também acordem do sono do dinheiro farto e infinito.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 23 de novembro de 2007.

17 novembro 2007

Tupi e suas conseqüências na terra Goitacá

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

É compreensível a euforia que norteou o anúncio da ampliação das reservas nacionais de petróleo. Analistas estrangeiros gabaritados chegaram a falar, em mudança do papel geopolítico do nosso país até com ingresso no G-8, o grupo das nações mais desenvolvidas. Enquanto as notícias para o país são alvissareiras, para a nossa região o momento é de barbas de molho.

Parece incrível, mas nossa região parece viver sempre na contramão do país. Boas notícias lá, problemas por aqui e vice-versa. Hoje, guerra no mundo árabe e crise energética é motivo de comemoração, porque preço maior do barril de petróleo significa mais royalties. Agora a descoberta e o anúncio de um novo campo de petróleo e gás, ao invés de euforia gera novas preocupações.

No plano nacional, a ANP já fala abertamente na mudança da Lei do Petróleo que é de 1997. Ela é a origem dos atuais critérios de repartição dos royalties. Hoje há adversários e inimigos ferrenhos à atual forma de distribuição dos royalties que acabam ajudados pela má utilização destes recursos. O fato de a atual regra permitir, que um município tenha orçamento igual ao de um estado, pode ser apenas um sinal do que chamam discrepância ou aberração.

É certo, que o mínimo que exigirão será que a extração desta nova área, não engorde ainda mais, a já gorda fatia dos royalties dos municípios chamados de produtores. Gente de bom senso que enxerga longe, já defende que a Ompetro assuma posição de abrir mão de novas fatias, que viriam com o petróleo e o gás da área de Tupi, garantindo assim o que se tem, do que crescer o olho sobre tudo que pode virar nada. Diz o dito popular: mais vale um pássaro na mão que dois voando.

Uma pena que esta organização dos municípios produtores, não tenha conseguido, ir além da mobilização de defesa das parcelas dos royalties, com a elaboração de um projeto regional de desenvolvimento econômico e social para nossa região. Câmaras setoriais, fundo regional de investimento, políticas integradas para avanços na área de saúde, educação e infra-estrutura serviriam agora como exemplo de políticas públicas eficientes e integradas regionalmente.

Enfim, nunca é tarde para se rever equívocos e mudar o passo. O petróleo tem tradição mundial de ser dizimador ou pelo menos, inibidor - pela pujança e grandeza de suas demandas - de outras iniciativas de desenvolvimento econômico, o que só faz aumentar a preocupação com o tempo que virá depois. Que as almas dos nossos guerreiros Goitacás nos orientem e protejam!

Publicado na Folha da Manhã em 16 de novembro de 2007.

10 novembro 2007

Estágio: uma importante etapa!

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

O Congresso Nacional está votando um projeto de lei enviado pelo Poder Executivo, que regulamenta, o estágio de estudantes de instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, de educação especial e da educação de jovens e adultos.

Não conheço atividade mais interessante para a formação profissional que o estágio nas empresas e instituições públicas. O aprendizado e o estudo na escola ou na universidade ou mesmo, por conta própria, ganha maio significado, quando o estudante pode ver, sentir e até contrapor na prática, com o saber dos livros e dos professores, mesmo que vivenciado em debates de sala de aula.

Quando fiz meu curso técnico no final da década de 70, a demanda por estes profissionais era tão grande, que não era raro ser admitido, como foi o meu caso, pela empresa, sem esta etapa. No governo FHC foi abolida sua obrigatoriedade para a conclusão do curso técnico.

No nível superior, o estágio sempre foi uma possibilidade e não uma obrigação. Neste grau, tive uma excelente experiência na condição de estagiário, mesmo já tendo vivido a situação de empregado com carteira assinada.

Sempre insisti muito com meus alunos, para que eles, independentes da obrigação curricular, vivam esta experiência, que pode ser menos importante, para aqueles que já trabalham, mesmo em área diferente da sua formação.

Reconheço e brigo com as empresas que usam do expediente de abrirem espaço para estágios, como forma de terem acesso à mão-de-obra barata. As empresas precisam compreender, de forma coletiva, que têm responsabilidade com a complementação da formação que o estágio propicia e que jamais poderá ser vivenciado, nos bancos acadêmicos. É até possível simular experiências e técnicas de trabalho, por mais específicos que elas sejam, na escola ou na universidade, mas jamais será possível, viver uma relação de trabalho entre patrão e empregado ou entre estes, sem que isto seja feito diretamente no ambiente de trabalho ou no processo de produção.

A empresa sempre ganha quando recruta profissionais que tenham passado por experiências de estágio. O desenvolvimento de programas de estágio que permitam um rodízio pelos diversos setores da empresa, ao longo de um determinado período de tempo fará todos ganharem: o estagiário, a empresa e a sociedade que terá, não só melhores profissionais, como bons cidadãos.

Publicado na Folha da Manhã do dia 9 de novembro de 2007.

PS.: O projeto de Lei que tramita no Congresso Nacional sobre estágios fixa:
1) Em um máximo de seis horas diárias e 30 horas semanais, o trabalho para estudantes de nível superior e, pela metade, para os do ensino médio. Atualmente, a lei determina apenas que jornada seja compatível com o horário escolar;
2) A duração máxima do estágio na mesma empresa será de dois anos (exceto para estagiário com deficiência) e, nos estágios com duração igual ou superior a um ano, é garantido recesso de 30 dias;
3) Ainda de acordo com o projeto, o estágio poderá ser ou não obrigatório, mas continua não criando vínculo empregatício;
4) A empresa deverá oferecer seguro contra acidentes pessoais ao estagiário, que será obrigado a apresentar relatórios semestrais dessa atividade. Além de órgãos públicos e empresas privadas, poderão contratar estagiários profissionais liberais de nível superior registrados no respectivo conselho profissional.

02 novembro 2007

Era uma vez...

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Assim nossos avós e os ficcionistas começavam a contar suas histórias. Hoje, a maioria deles, já rebuscou os textos e a contação de causos. Os políticos rejeitam esta expressão de apoio para contar suas peripécias, mas igualmente a usam. Fazem isto, mas raramente conseguem avaliar e discernir seus momentos de baixa de popularidade diante dos eleitores. Sonham com inexistentes fórmulas novas e mágicas para tentarem se manter no apogeu da política.

A representação política é um encargo na vida do cidadão. Alguns não a consideram enquanto possibilidade pelo simples fato, de preferirem cuidar das suas vidas pessoais. Não se importa com os outros e considera a política, um mal não necessário. Por outro lado, há aqueles, que dando razão aos primeiros, vêem nela, a possibilidade de se locupletarem. Nem um nem outro têm razão, mesmo que a maioria de ambos, ou de apenas um, siga este caminho.

Quando o político começa a contar certa vez... seu apogeu já vai longe. Difícil de achar aqueles que entendem que o seu tempo está passando ou mesmo, já passou. O tempo passa mais rapidamente para uns que para outros. Os que começaram garotinho, ainda mais com apoio desta alcunha, mais cedo poderá encerrar seu período de prestígio, sem que seja necessário novo registro nominal no cartório eleitoral.

Era uma vez, em minha cidade um jovem radialista e poeta, que obcecado pelo público já fiel em seus programas matinais sonhou voar alto, no desejo de se tornar um destes representantes. A obstinação e a ousadia tornaram seu objetivo mais próximo. A descoberta do pragmatismo, na já poderosa máquina pública, viabilizou acessos e postos talvez, antes inimaginados.

Na caminhada não se fez de rogado quando sentiu necessidade de jogar para o acostamento, tantos quanto lhe questionassem práticas, formas e principalmente, o desejo de vôos autônomos.

Chegou longe, mas rapidamente retornou. Ainda não enxerga o fim, mas continua a colecionar ex-colaboradores e adeptos. Sabe que dois lados na política é prática tão velha quanto vento sul. Só não esperava perder a máquina, hoje engordada pelos royalties para com ela retomar, o sonho enterrado da presidência, entre diversos outros motivos, por uma greve de fome de poder.

Aspira novamente o mais alto posto na representação popular do estado. Não repetirá, cem anos depois, o conterrâneo Nilo Peçanha, mas já pensa nos netos e nas histórias... era uma vez!

Publicado na Folha da Manhã em 02-11-07.

27 outubro 2007

Olhando ao redor

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Um bom exercício para analisar as administrações municipais é observar que outras cidades estão fazendo. Verdade que a história de cada uma delas desperta vocações e interesses variados. Também não é possível comparar coisas e situações muito diferentes. Algumas vezes exercito a observação diretamente, em outras analisando dados, indicadores e outras informações à distância.

Neste exercício de comparação de Campos com outros municípios de porte médio surgiu Sorocaba.Criado pouco depois da nossa capitania de São Tomé em 586 mil habitantes, 36% a mais que Campos. Possui 164 mil imóveis cadastrados, numa área de 546 Km², contra, cerca de 120 mil imóveis que em Campos estão distribuídos, numa área oito vezes maior que o município paulista.

Em 2008 a cidade paulista terá um orçamento de R$ 1,1 bilhão contra R$ 1,45 bilhão aqui em Campos. Mais moradores significa mais gastos, exatamente, com as duas áreas mais dispendiosas na gestão pública: educação e saúde. Resumindo: Campos tem 30% a mais de dinheiro para cuidar de 160 mil pessoas a menos, embora espalhados numa área oito vezes maior.

Porém, há outras diferenças gritantes entre as gestões públicas das duas cidades. Por lá, as compras são on-line através do portal “Acess@compras” que é um espaço virtual para pregões e leilões on-line. A cidade assumiu o slogan da capital da solidariedade criando dentro da estrutura municipal uma secretaria (de Parcerias) não para fazer assistencialismo, mas para interligar gente interessada em ajudar e instituições necessitadas de gente, projetos e recursos.

Além disso, o município mantém prestação de contas divulgando balancetes de receitas e despesas, no máximo três meses após sua execução. Criou um plano cicloviário com meta de viabilização de 77 quilômetros de ciclovias interligadas que visa melhorar a qualidade de vida e a mobilidade urbana, garantindo segurança aos ciclistas, ao mesmo tempo em que estimula o lazer, a prática de atividades físicas, além de oferecer uma opção econômica de transporte.

Sorocaba tem um portal na internet para emitir certidões negativas e um projeto inovador de desburocratização que reduziu de 120 para, dez dias, o tempo necessário para se abrir uma empresa. Outras diferenças de gestão poderiam ser listadas, mas basta lembrar uma última e fundamental distinção: Sorocaba não corre o risco de ver sua receita orçamentária cair com o fim do petróleo!

Publicado na Folha da Manhã em 26 de outubro de 2007.

20 outubro 2007

A vida

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Hoje preciso abordar um tema diferente. Peço licença aos que vieram aqui ver uma opinião sobre política, administração ou de sugestão sobre temas afins. A vida leva-me hoje a pensar mais sobre o interior do que sobre estas circunstâncias que nos cercam.

Já me considerando desculpado atenho-me, a um dos muitos e-mails com mensagens que a companheira de rede, Cristina Lima, costuma nos brindar. Confesso hoje, que alguns eu leio integralmente, outros em parte e outros ainda acabam ficando para depois, depois e...

Esse, porém, bateu no âmago da angústia atual sobre o significado da vida e o quê efetivamente vale à pena. Ela propositalmente chamou a atenção para a observação cotidiana, mas profunda do John Lenon: “A vida é aquilo que acontece enquanto planejamos o futuro”.

Vivemos pensando no futuro e na ilusão de que a vida é para sempre. Sabemos que não é assim que as coisas funcionam, mas rejeitamos pensar no fim que pode ser um novo começo.

Li e nunca mais esqueci, no livro “O fio da vida” do Drauzio Varella que “a morte é a ausência definitiva”. Independente dos nossos credos e da esperança que podemos sentir ou intuir em algo que não é concreto, a frase não poderia ser mais chocante, além de insuficiente.

Porém, eu lhe indago: o ontem, assim como a pedra lançada, não são também ausências definitivas? Não vou pela auto-ajuda, mas não me importo pelos que avançam nestas águas.

Seguindo nas reflexões e sem querer ser piegas, mas sem preocupar-me em publicamente sê-lo, pergunto-me em voz alta: por quê complicamos nossas vidas? Por quê vivemos de menos, o tempo presente que, como alguém já disse, é o único que existe, na medida em que os demais, ou são memórias ou são possibilidades que podem ou não se concretizar?

A onda sobe, desce e esparrama na areia. Nunca uma onda será como a outra, da mesma forma que nenhum momento será igual ao que passou ou ao que virá. Que saibamos aprender as lições postas em nossos caminhos.

Mas e a vida? Ela é maravilha ou é sofrimento? Ela é alegria ou lamento? O que é, o que é, meu irmão? Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo. É uma gota é um tempo que nem dá um segundo. Há quem fale que é um divino mistério profundo. É o sopro do criador. Numa atitude repleta de amor. Você diz que é luta e prazer. Ele diz que a vida é viver...” Que Deus nos ajude!

Publicado na Folha da Manhã em 19 de outubro de 2007.

12 outubro 2007

Apenas um apetite invulgar sobre os R$ 7 bilhões

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Evitei tratar do tema na sexta-feira passada, quando se encerrava o prazo do troca-troca absurdo de partidos para as eleições do ano que vem. Passada a data-limite, enquanto cidadão há que se exigir um debate sério, sem “toma-lá-dá-cá” para a melhoria dos nossos problemas.

Um orçamento de 1,5 bilhão em 2008 permite estimar, que o próximo prefeito terá mais de R$ 7 bilhões, para num mandato de quatro anos, melhorar nossas condições de vida, embora se saiba, que aqueles que mais necessitam das ações do poder público, ainda não lêem jornais.

Não é demais exigir um plano de metas. Um plano claro, sucinto, exeqüível. Nada de promessas mirabolantes. Falo de ações que melhorem nosso trânsito, o transporte urbano, a saúde, etc. A saúde, que hoje detém cerca de R$ 400 milhões do nosso orçamento, ainda não deixou visível ou perceptível, melhorias proporcionais, ao quase ½ bilhão que recebe anualmente.

É preciso superar a pobreza do debate, ou da falta dele, na disputa política que se avizinha. As baixarias, o troca-troca de legendas, favores e barganhas que assistimos todos os dias, já não fazem corar, nem aqueles que antes se diziam espantados.

Não é possível que se reproduza em 2008 a mesmice de 2004, repetida em 2006, que agora deixa visível a mediocridade de resultados apresentados pelos eleitos e de outro lado, a falta de alternativas sérias apresentadas pelos que se opõem.

Não, a sociedade não está cansada e nem somente desiludida. Ela quer e espera alternativas sérias. Mudanças de rumo. Ação. Coragem. Amor à terra natal ou que lhe hospedou. Talvez, esta seja a principal ausência que se percebe nos gestores que vêm nos representando, nestes últimos vinte anos. Amor à nossa terra. Não falo de amor de palanque.

A sociedade exige amor de quem se entristece com a criança maltrapilha e mal alimentada. Amor que chora a falta de amparo ao velho doente. Amor que lamenta pelo tempo de espera do cidadão que, sem dinheiro para adquirir um carro e sem coragem para circular de bicicleta, em meio ao nosso violento trânsito, é obrigado a usar, o cada vez mais decadente, transporte público local.

A sociedade que anda meio adormecida, não está surda e nem cega. Por isso exige que se tenha uma eleição que debata verdadeiramente propostas. Ninguém é mais inocente para deixar de admitir, que o enfrentamento político para a escolha de quem vai ser nossos próximos representantes políticos, seja um convívio de bons modos, mas cá para nós: não dá mais para, apenas ver o apetite invulgar pelos R$ 7 bilhões!

Publicado na Folha da Manhã em 12 de outubro de 2007.

07 outubro 2007

Cuidado, a próxima vítima pode ser você!

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

É verdade que a vida tem valido cada vez menos. Porém, este articulista confessa que ainda está impactado, com os números absurdos que teve acesso recentemente que mostram o tamanho da violência no trânsito, em Campos e no Brasil como um todo.

Antes, vale dar os parabéns, ao Dr. José Manuel Moreira, presidente da Fundação João Barcelos Martins, por ter provocado uma discussão, que infelizmente não pude participar, para discutir, o gravíssimo aumento de 360%, nos atendimentos hospitalares decorrentes dos acidentes de trânsito, causados na área urbana e nas estradas que circundam nosso município.

O leitor pode perceber o fato simplesmente folheando o jornal e identificando, que só os acidentes com mais de uma vítima fatal têm hoje, espaço para divulgação. A banalização das ocorrências vai suprimindo os demais. Estão morrendo jovens e adultos que as famílias e o país tanto investiram e esperavam. Não desejo que eles sejam vistos pelos olhos das frias estatísticas.

Porém, os números do estudo do professor Paulo Fleury, da UFRJ são estarrecedores. Os mais graves são aqueles que mostram o índice de mortes por acidentes, sabendo, que em nosso país, “só se registra como morte por acidente na estrada, a que realmente ocorre no local do acidente. Se o ferido for levado ao hospital e lá morrer, o caso fará parte de outra estatística”.

No Brasil o índice de mortes por mil quilômetros de estrada é superior a 100, enquanto no Canadá é de 3,3, no Reino Unido de 9,8, nos EUA 6,5 e na Itália, 10. Outro número absurdo: no Brasil tem-se, 909 óbitos para cada dez mil acidentes, contra 65 nos EUA.

Pelo crescimento dos atendimentos feitos no Hospital Ferreira Machado, referência no atendimento das vítimas de acidentes em nossa região, não seria demasiado estimar, que os números locais devem estar, acima da média nacional. O problema do trânsito tem responsabilidades nos três níveis de governo, mas, é a prefeitura que detém poder maior, mais rápido e eficiente, para tomar medidas capazes de mudar este quadro, ou pelo menos, reduzir suas conseqüências.

Ouso dizer, infelizmente, que hoje, é quase inexistente, a família que não tenha sofrido, a subtração de entes queridos, vítimas de acidentes automobilísticos. Urge a necessidade de se passar da constatação à ação. Algumas medidas amargas talvez tenham que ser tomadas, como a do aumento no rigor nas punições às infrações. Por outro lado, é imperativa uma ampla e bem feita campanha, de educação no trânsito, porque além de melhorar a infra-estrutura e a logística do trânsito, há que se acabar com o mau comportamento e a imprudência de muitos motoristas.

O trabalho será árduo e demorado, mas, precisa ser empreendido com planejamento, ações e metas gestadas junto com a sociedade. Fora disso, continuaremos a chorar pelos filhos vitimados.

Publicado na Folha da Manhã em 05 de outubro de 2007.

30 setembro 2007

A verba de Azevedo Cruz teria hoje outros significados?

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Tenho uma certa implicância com algumas partes do nosso tão glorificado hino “Amantia Verba” de Azevedo Cruz. Há algum tempo saí do desconhecimento da sua existência, para o espanto com a exuberância do seu formalismo. Neste processo surgiu o aprendizado de que o título dos versos, que forjaram nosso hino, traduzido do latim, significava “palavras amantes ou amáveis”.

Na verdade não vi amabilidade ao ler que “os teus vassalos vêm beijar-te os pés”. Ao invés de lisonja ao território, senti uma tentativa de preponderância de um povo em relação aos demais.

Imbuído desta reflexão em momento que relia outros escritos, este articulista descobriu, que apenas, no direito penal moderno, a individualização das penas, substituiu a idéia da antiga legislação que previa o castigo dos descendentes, pelos erros de seus percussores.

Neste processo, surgiu de forma quase natural, a idéia de que no presente momento, pode-se de forma involuntária, estar retomando, o direito penal de épocas passadas, ao condenar as gerações futuras, a viverem com as sobras da abastança atual que resulta da generosa receita dos royalties.

A exemplo dos idos da idade média, estaria a geração atual condenando seus herdeiros, a pagarem pelo mal hoje praticado, mesmo que inadvertidamente, pela eleição de representantes que desdenham a vontade daqueles que os elegem?

Haveria explicação para o fato na lei dos homens, ou mesmo, na legislação divina que pudesse explicar os motivos desta geração, ter direitos que nem os do passado e nem aqueles do futuro terão como usufruir?

Os técnicos mais refinados têm considerado o petróleo como uma riqueza que deveria prever, para uma verdadeira justiça do seu usufruto, uma perspectiva semelhante a do tempo de sua criação. Na ânsia de se promover a justiça – se é que é possível exigi-la em meio ao emaranhado de confusões que se vive – não seria mais correto buscar uma utilização, à semelhança da produção desta riqueza, com uma concepção inter-geracional?

Por quê, você que lê este articulista, teria o direito de utilizar, neste período que pode oscilar entre 20 a 30 anos, um bem, que por milhares de anos esteve lá nas profundezas de um mar e que sequer foi lembrado por Azevedo Cruz, quando em 1901 escreveu o nosso Amantia Verba? Cruz falou da Campos Formosa no plaino goitacás, na terra feita de luz e madrigais e morreu, sem poder usufruir de uma riqueza que sequer sabia que ainda estava sendo gerada.

As Marias e os Joões que acabam de nascer não terão acesso aos regalos do presente e, tomara Deus, que não tenham que se sujeitar como vassalos, a beijar os pés daqueles que souberam viver nos dias atuais, com menos recursos, energia, corrupção e mais dignidade.

Publicado na Folha da Manhã em 28 de setembro de 2007.

21 setembro 2007

Citação infeliz em conversa de vendedor

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
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O presidente Lula, no seu elogiável trabalho de mascate vendendo mundo afora nossas potencialidades, agora, especialmente, o etanol e os bio-combustíveis, acabou pisando na bola no quando na Espanha, ao rebater as críticas sobre as condições de trabalho no setor canavieiro, disse: “Será que o corte de cana-de-açúcar é mais penoso do que trabalhar numa mina de carvão? E por quantas décadas, ou por quantos séculos, o carvão determinou a economia do mundo?”

Não dá para justificar uma coisa com outra. É inaceitável que condições de trabalho, quase escravocratas de séculos atrás, sejam reproduzidas hoje, em qualquer situação. Ano passado pelo menos quinze trabalhadores morreram, apenas em São Paulo, por causas não determinadas.

Pesquisadores-médicos do Hospital das Clínicas estão investigando a suspeita de que a causa principal tenha sido, a exaustão causada pelo exagerado esforço físico no corte de cana.

Fora isso, ainda há inúmeros casos de canavieiros trabalhando de forma clandestina, sem carteira assinada, sem segurança, sem o uso de EPIs, etc. Correto e bom que queiramos vender nosso etanol lá fora. Que briguemos para reduzir as taxas de importação hoje cobradas pelos países desenvolvidos, mas não podemos deixar de exigir, a melhoria das condições de trabalho do canavieiro, que ainda são precaríssimas, na maioria das regiões produtoras do nosso país.

É inaceitável que a remuneração seja também tão baixa, em torno de 1/3 de R$ 0,01 por golpe de facão. Até uma década atrás, o bóia-fria cortava entre 4 a 6 toneladas de cana por dia. Hoje, este número, considerado mínimo, oscila em torno de doze toneladas cortadas diariamente.

O presidente é bem intencionado quando quer vender nosso país lá fora. É também compreensível, que ele queira fugir das artimanhas que o mercado global arruma, para impor barreiras alfandegárias, sanitárias e até de uma falsa preocupação com o meio ambiente e com a saúde do nosso trabalhador.

Porém, em troca de ganhos de capital para nossos produtores e industriais, não se pode deixar que condições de trabalho e de ganho dos trabalhadores sejam equivalentes àquelas vivenciadas há mais de um século por mineiros. Isto não pode ser considerado natural.

Avancemos sim, no plantio controlado ambientalmente da cana, no comércio internacional do etanol e dos bio-combustíveis, mas, não deixemos, os trabalhadores sofrerem as conseqüências de uma produção barata e exploradora como faz a China. Tenho certeza que com a origem de vida do nosso presidente, sua fala não deve ter sido, nada além, de uma conversa de vendedor.

Publicado na Folha da Manhã em 21 de setembro de 2007.

14 setembro 2007

Golpe ou blefe de mestre?

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
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moraes.rol@terra.com.br

Ninguém em sã consciência e responsabilidade poderá afirmar tratar-se de um ou outro. Porém, ninguém pode negar que o governador Sérgio Cabral, quando aqui esteve para uma nova solenidade de inauguração da ponte estadual acabou saindo das cordas e indo para o meio do ringue, na luta contra a aliança entre Garotinho e César Maia, ao afirmar que renuncia ao mandato de governador para disputar a prefeitura do Rio de Janeiro, se tal aliança vingar.

Golpe ou blefe ninguém ainda poderá dizer, mas a jogada é de mestre. É possível apostar, que nem mesmo o soberbo alcaide carioca poderia esperar, por resposta tão ágil e em estilo xeque-mate como esta. Cabral apenas com este anúncio sinaliza para o presidente Lula, que em nome da boa relação e da lealdade ao presidente está disposto, a qualquer sacrifício, até largar o certo pelo duvidoso, com pouco mais de um ano de governo que teria, em abril do ano que vem, quando terá que renunciar, se pretender levar à cabo a idéia de tentar transformar o blefe em golpe.

O melhor da história é que, na verdade, ele não teria nenhum concorrente forte nesta disputa, o que tornaria o duvidoso, menos duvidoso, embora eleição, seja sempre eleição. Outro ponto positivo que teria neste “sacrifício” é que para muitos analistas é sempre melhor e mais fácil, ser prefeito da cidade maravilhosa, sem as incumbências incômodas da segurança das balas perdidas, do caveirão, etc. e de um orçamento estadual inadequado às demandas dos 92 municípios.

Um problema para Cabral é saber se conseguiria ter maioria no diretório municipal do PMDB, que lhe faltou na votação de segunda-feira, quando o diretório estadual, sob o comando de Garotinho, Picciani e companhia aprovou o acordo com César Maia.

Neste caso, o diretório estadual se pretender intervir no municipal, poderá receber o troco do diretório nacional, que parece disposto a manter a aliança com o PT e sonhar em indicar o candidato da aliança nacional com o PT à presidente da República. Sem trocadilho, quem deve estar rindo de orelha a orelha é o Pezão, o atual vice-governador.

E o alcaide e o ex-governador nisso? As regras do jogo da política ensina que o político deve a todo custo evitar, que o controle da situação saia das suas mãos para as do adversário. Num primeiro cenário, este parece ser, o atual quadro. A bola foi roubada no meio de campo por Cabral, enquanto Maia e Garotinho correm para a defesa. Há risco de gol? Só o tempo e o desenrolar da jogada poderão responder.

A partida ainda está no primeiro tempo, mas há gente comemorando na arquibancada. Para os torcedores que se espantaram com a virilidade da jogadas saibam que tudo isto será “café pequeno”, diante do que aponta o cenário das disputas pelas prefeituras da região.

Publicado na Folha da Manhã em 14 de setembro de 2007.

07 setembro 2007

População e problemas de mais e de menos na região

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

O IBGE divulgou no início desta semana, os resultados preliminares da Contagem Populacional realizada este ano, junto com o Censo Agropecuário. Esta contagem difere do Censo porque não foi feita em todas as cidades, apenas naquelas de população inferior a 170 mil habitantes, segundo o censo de 2000. No norte fluminense, só Campos ficou de fora.

Alguns dados confirmaram estimativas já conhecidas. Os municípios pequenos que não recebem royalties como produtores tiveram suas populações estabilizadas com ligeiro crescimento ou declínio. Dois deles perderam população: Cardoso Moreira com menos 422 habitantes teve sua população reduzida de 12.579 em 2000, para 12.157 habitantes em 2007 e São Fidélis com menos 305 habitantes caiu de 36.774 em 2000, para 36.469 habitantes, agora em 2007.

O êxodo nestas e noutras cidades da região é facilmente explicado, pela absorção de gente nas cidades litorâneas que têm gordas fatias de royalties. É possível até afirmar, a existência de fluxo populacional entre elas, devido à atração gerada, pelo emprego e melhores condições de vida.

Também chama atenção a situação de Rio das Ostras, que teve sua população aumentada em 90%, em apenas sete anos. Município vizinho de Macaé e ex-distrito de Casimiro de Abreu Rio das Ostras tinha 36.769 habitantes em 2000 e 70.095 em 2007. O segundo maior aumento percentual de população entre as cidades da Baixada Litorânea e do Norte Fluminense foi de Búzios com 27,6%: 18.179 habitantes em 2000 e 23.208 em 2007. Entre os municípios produtores de petróleo de nossa região, São João da Barra teve o menor crescimento populacional.

Bom também destacar que não há nada a ser comemorado pelos municípios que apresentam maior número de habitantes. Alguns prefeitos gostam de expor estes números como se fossem feitos de suas administrações, mas reclamam da quantidade de gente que vem lhe pedir emprego, casa, escola, hospital, etc. Esta contradição no fundo é política e cada um a explora conforme suas conveniências. A única vantagem é a elevação dos repasses governamentais baseados na população.

Na verdade, quanto mais gente, mais necessidade de leitos hospitalares, escolas, casas, saneamento, etc. O tamanho da população não pode ser visto, como às vezes aparece na mídia, como um campeonato, embora seja natural diagnosticar que o crescimento da população tem relação direta com o desenvolvimento econômico, porque onde há emprego há fluxos de pessoas.

Sendo assim, é possível diagnosticar que a cadeia produtiva do petróleo continua sendo a mola mestra do desenvolvimento econômico regional. Isto reforça a idéia repetida, e, talvez ainda não praticada, da necessidade de planejar o desenvolvimento para a era pós-petróleo. Neste aspecto, este articulista considera que nada há para comemorar e muito existe para se preocupar.

Publicado na Folha da Manhã em 07 de setembro de 2007.

31 agosto 2007

Cultura como ferramenta de promoção social

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
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Sou mais consumidor de cultura do que um conhecedor das suas diversas formas de manifestação. Não pretendo, até pela falta de base para isso, fazer uma análise das formas de produção e/ou conteúdo da cultura. Este espaço articulista quer apenas defender o uso e o incentivo da formação cultural, como elemento agregador, incentivador e de resgate de valores e auto-estima nos projetos desenvolvidos por instituições públicas e/ou organizações sociais de todos os tipos.

Não falo de apêndices culturais a projetos maiores, sejam eles de gênese autêntica para geração autônoma de renda, ou, os paternalistas e assistencialistas. Aliás, estes últimos até pela compreensão que têm do mundo, ou pela visão utilitarista que normalmente fazem dele, não conseguem enxergar a cultura para além do lazer e do divertimento, embora, estes resultados não sejam problemas, mas partes das vivências que o exercício e o convívio cultural possibilitam.

Nos dias atuais, este articulista passou a ter uma visão melhor desta questão depois de ter participado diretamente de pelo menos, três projetos sociais/educacionais/geração de renda em Campos: a incubadora de cooperativas de trabalho no Cefet; o Informática Cidadã na comunidade da Aldeia e as Cooperativas de Alimentos e Brindes – Cooperdouro - na comunidade do Matadouro.

Num diagnóstico sobre o desenvolvimento das três experiências evidenciam-se resultados positivos e outros nem tanto. A existência deles, por si só, já poderia ser considerado um ganho pelos resultados produzidos, para além, das metas imediatas de produção, pelos empregos gerados, pessoas treinadas, inserção no mundo do trabalho, ascensão social, contatos, etc.

Porém, nada disso permanecerá de forma mais ampla e significativa, se não forem articulados com uma visão de mundo que só a cultura pode oferecer. Não falo de cartilhas, formação política ou catequese. Falo de autonomia, de emancipação, no conceito que o sociólogo português Boaventura Santos chama de Emancipação em suas diversas e única nuance.

Em tempos em que o reformismo pragmático tornou-se real, contra os sonhos utópicos das revoluções e seguindo a idéia de que a melhoria gradual é a tônica e o caminho, este articulista enxerga na cultura, o elemento chave de transformações sociais que embora, lenta e algumas vezes cíclicas, pode produzir, a favor daqueles que necessitam de apoio dos governos e da sociedade.

Apresento assim, a sugestão aos gestores de que incorporem a idéia da exigência de uma atividade cultural permanente como necessidade básica para apoio aos projetos sociais e de geração de renda. Os resultados da ampliação da cultura através da música, teatro, literatura, artes plásticas, dança, cinema, fotografia, etc. darão, densidade e qualidade, que a sociedade também espera dos projetos sociais.

Publicado na Folha da Manhã em 31 de agosto de 2007.

24 agosto 2007

Tá faltando o grito da arquibancada

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Há algum tempo venho tentando observar as mudanças que o dinheiro dos royalties vem provocando em nossa sociedade. A abundância de recursos quase sempre é mau conselheira.

Em homenagem ao nosso presidente, que por aqui passou recentemente, este articulista lançará mão de uma metáfora para tentar explicar aquilo que o preocupa.

As receitas dos royalties poderiam ser comparadas à carreira de um jogador de futebol. Antes que você despreze o texto e considere que este articulista enlouqueceu de vez, saiba que ele não fala de patrocínio para os nossos times de futebol. Isto não é novidade e nem exclusividade.

O argumento é que há semelhanças enormes entre o apogeu do craque e as receitas gordas dos royalties, assim como o presente de abastança tende a um futuro, igualmente negro, como o ouro que se extrai do fundo da nossa plataforma continental.

Embora tanto para um quanto para outro, as bases para o seu desenvolvimento aconteçam em tempos remotos, sempre aparecem lances que permitem a idéia de que são acidentais.

Boas exibições geram bons contratos, assim como boas negociações no Congresso produzem leis que obrigam o pagamento de quotas mensais e participações especiais trimestrais.

O tamanho da carreira de ambas é curto e pode ser interrompido a qualquer momento, por um acidente ou uma mudança nas regras. A pressão de outros jogadores pode criar tetos de salários ou de repasses, na defesa da justiça que exige tratamento igualitário como o pagamento de bichos.

Um bom marketing da carreira cria uma marca de qualidade, da mesma forma que o uso indevido das receitas recebidas geram uma imagem de desperdício e desmerecimento.

O novo rico, em um ou outro caso, pode ser discreto e compenetrado investidor que pensa no futuro de fim de carreira e das reservas, ou gastador e esbanjador que vive o presente esquecendo o futuro. Neste caso, os shows, as festas, os carros caros, casas e apartamentos supervalorizados consomem o dinheiro que hoje abunda e amanhã faltará.

A fartura do presente gera amigos e empresários com idéias de investimentos e gastos mirabolantes que sumirão na mesma velocidade da chegada da escassez.

O presente gera disputa de poder pelo controle da boca do cofre, da mesma forma que a disputa por entrar jogando no Maracanã. A única mudança que pode alterar o curso da carreira, tanto de um quanto de outro, é a manifestação da torcida na arquibancada. Sem estes gritos e pressões, nossos adversários continuarão a entrar com bola e tudo nas redes da mamata.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 24 de agosto de 2007.

20 agosto 2007

Plantando bom exemplo

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Mais que alegre fiquei emocionado com o projeto do Instituto Terra, desenvolvido pelo premiadíssimo fotógrafo Sebastião Salgado e mostrado em matéria de O Globo no último domingo.

O fato da matéria ter saído no dia dos Pais e ser sobre a cidade mineira de Aimorés poderia ser apenas uma simples coincidência. Explico: conheci Aimorés em 1985 quando trabalhava numa empresa especializada em manutenção de alarmes. Aimorés foi a cidade em que meu pai Joemio tomou posse no Banco de Brasil. Isto explica minha satisfação inicial com o projeto.

Aimorés é uma cidade pequena, sem características especiais que acaba fazendo a gente pensar: como alguém pode gostar de morar naquele lugar? O nascimento das cidades não é algo programado. Algumas poucas são planejadas como Brasília, Goiânia e outras poucas que nascem ao redor de grandes empreendimentos. A maioria tem uma ou mais razões históricas e geográficas que determinam seu nascer e crescer. No caso específico Aimorés cresceu e foi mudada quando tiraram o curso do rio Doce de dentro da cidade para alimentar a barragem de uma hidrelétrica.

O que me chamou mais a atenção foi a forma como o projeto está sendo desenvolvido com participação da sociedade e apoio de gente importante que o fotógrafo famoso carreou, como amigo e aliado nas andanças pelo mundo. Com investimentos de pouco mais de R$ 6 milhões recebidos das mais diferentes origens, eles já plantaram 1 milhão de árvores nativas, numa área equivalente a 334 campos de futebol e geraram 80 empregos diretos naquela parte da Mata Atlântica.

Por aqui, alguns dos financiamentos atendidos pelo Fundecam geraram até menos empregos. Verdade que os recursos investidos de lá são a fundo perdido, enquanto aqui retornam, embora sem juros e com baixa correção. Porém, por aqui, depois de quitadas as dívidas, o empreendedor faz o que quiser, inclusive, levanta acampamento e leva suas máquinas junto com os empregos, enquanto por lá se terá o ambiente recuperado e melhor qualidade de vida.

Sei que são situações diferentes. Projetos não devem ser copiados sem a observância das realidades de cada um dos lugares. Mas, me pergunto porque não estimular a formação de corredores de mata com estímulo à produção de mudas? Por lá formam também professores da rede pública, além de técnicos agrícolas ambientais que aprendem, a não espalhar pesticidas pela terra.

O projeto tem ainda expectativas, quase sonho, de estar formando uma nova geração de secretários de meio ambiente para as cidades daquela região. Como sugestão, penso que o Fundecam poderia obrigar seus contemplados, a investir em semelhantes contrapartidas ambientais. Seria o troco a ser devolvido, por aquele empresário que na propaganda oficial dizia: “não há dinheiro mais barato que esse no mundo”.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 17 de agosto de 2007.

14 agosto 2007

Enxugamento e qualidade nas empresas de ensino S.A.

Roberto Moraes Pessanha
Ex-diretor geral do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

O enxugamento de custos em universidades que possuem filiais em Campos tornou-se prática. Agora foi a vez da demissão dos coordenadores de curso. Este é o gestor mais próximo do professor e do aluno, na relação entre o cliente e o prestador deste tipo de serviço.

O coordenador é quem mais facilmente detecta e resolve os problemas, desde os mais simples, aos mais sofisticados, importantes e relativamente comuns, na relação ensino-apredizagem, que a despeito das inovações tecnológicas, ainda é desenvolvida entre humanos, mesmo que com a intermediação de máquinas. Fico imaginando que quem se importa, até com este tipo de custo, o que não deve fazer, ao avaliar o pedido de compra de livros para a biblioteca?

Por enquanto, a queixa maior é dos próprios, porque foram demitidos depois de realizarem o trabalho de distribuição de horários e turmas para o segundo semestre deste ano. Sendo assim, além de perderem as gratificações pelo trabalho de coordenação ficaram sem aulas para manterem, pelo menos parte, dos seus salários.

Interessante observar, que os atos de dispensa não podem, sequer, serem considerados demissão, com direito a indenizações, porque há algum tempo, as atividades de coordenação nestas instituições, já vinham sendo feitas, através de contratos temporários de prestação de serviços.

Dizem, que estas empresas de ensino ao fazerem estas chamadas “reestruturações produtivas” em suas gestões, estariam se preparando, para tentar entrar no mercado de ações (S.A.) onde o resultado esperado é sempre e exclusivamente, o financeiro.

Por parte dos alunos, um dos chamados “clientes” do prestador de serviço de ensino, pode ser que, só no médio prazo, eles venham a perceber, a redução da qualidade do serviço contratado.

Talvez, nem isto ocorra, se o objeto de seus desejos for, não uma formação de qualidade e sim, uma simples certificação ou diplomação. A identificação da má qualidade da formação só será detectada quando o egresso chegar, ao segundo “cliente” da universidade: o mercado de trabalho. Só que aí, a universidade S.A. já terá embolsado seu quinhão e usará parte dele, na mídia para manter sua marca em evidência, a despeito de reclamações individuais de um ou outro egresso.

O Ministério da Educação que tem como uma de suas atribuições, a regulação do setor com poder para autorizar, reconhecer e avaliar deveria acompanhar tudo isso mais de perto. Até porque, entre os itens de avaliação dos cursos universitários está a formação e a produção acadêmica de seus coordenadores. Bom também, que os futuros alunos destas empresas de ensino se informem mais a fundo sobre elas, antes de escolher, ou melhor, contratar seus serviços.

Publicado na Folha da Manhã em 10-08-07.

04 agosto 2007

Por quê e para quê escrever?

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Ultimamente venho pensando muito sobre a arte de escrever e sobre o poder das palavras. Muito antes da informática e da facilidade de comunicação que os tempos modernos trouxeram, a humanidade já tinha a ilusão de que o ato de escrever, de expor e tentar formar opiniões, convicções era uma forma de melhorar mundo. Qual o quê. Nem antes e nem agora isso ocorre.

O mundo muda para melhor ou para pior independente das idéias que são escritas e expostas à reflexão dos outros. No máximo o ato de escrever serve para deleite do próprio e de alguns poucos que lhe passam a acompanhar a variação de opiniões.

Mesmo um Rubem Braga que escrevia e era admirado por muitos, uma vez disse: “escrevi milhares de crônicas e não creio que tivessem qualquer influência na vida política do meu país”.

Sem querer me comparar ao Rubem, lembro que quando passei a escrever neste espaço, mesmo que involuntariamente, acreditei nesta antiga ilusão de que escrever e ser lido poderia, de alguma forma ajudar a melhorar minha região. Pura infantilidade e presunção. Hoje, volto mais uma vez a concordar, com Braga quando ele diz que “no Brasil escreve-se para os colegas”.

Como não sou escritor, acho, que nem para os “colegas” escrevo. Acho que escrevo apenas para aprender, para aprofundar, conhecer e guardar. Fernando Sabino disse a Clarisse Lispector em entrevista reproduzida no livro com este título da escritora que “a verdadeira inspiração é aquela que nos impele a escrever sobre o que não sabemos, justamente para ficar sabendo”. Perfeito para mim, porque explica que a ânsia de escrever deriva do esforço do eterno aprender.

Não abandonei por completo, a idéia de melhorar as coisas e as pessoas através da escrita, mas hoje só vibro quando a escrita provoca reações, especialmente, as de discordâncias, pois assim, ela alimenta o debate, as discussões, a procriação de idéias e de críticas e mais que tudo: o antigo e eterno sonho que faz a gente insistir em ter um mundo que seja, ao menos, um pouco melhor.

Escrever pode ser relatar, mas também pode ser refletir em voz alta, pensar, propor e revisar, conceito e opiniões. Por isso, hoje vejo que este exercício serve menos aos “colegas” e mais para nós mesmos, porque através do que escrevemos conseguimos descobrir quem somos.

PS.: Como escrever tem também tem seus riscos, assumo o desconhecimento que me fez dizer, no artigo passado, que Campos não tinha nenhum atleta nos jogos do PAN. Os parabéns a Lara Teixeira pelo nado sincronizado, não invalidam, até pela inexistência da modalidade na cidade, os questionamentos e as propostas feitas para o desenvolvimento do esporte em nossa cidade.

Publicado na Folha da Manhã 4 de agosto de 2007.

27 julho 2007

Ninguém no PAN. Por quê?

Roberto Moraes Pessanha
Professor do CEFET Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Campos não tem nenhum atleta participando dos jogos Pan-Americanos. Seria um fato natural se não fosse o tamanho da nossa população e do nosso orçamento. Verdade que a maioria dos cinco mil municípios brasileiros também não têm, porém, nós, além de sermos um dos dez maiores orçamentos temos uma tradição esportiva reconhecida.

Mesmo com alguns questionamentos sobre o tamanho dos investimentos nestes mega-eventos, ainda consigo ver neles retorno, especialmente naqueles que ficam para o nosso povo. Mais do qualquer um outro, o pessoal da área sabe que é da massificação dos esportes que você filtra os melhores para as competições nas equipes que são chamadas de altamente competitivas.

Campos em passado recente já gastou um bom dinheiro com estas equipes. Trouxe atletas já formados e até alguns consagrados em equipes de vôlei e basquete, masculino e feminino. A pergunta que você já deve estar fazendo é sobre o que restou deles, além de uma série de processos judiciais que o contribuinte está pagando até sem saber.

Um projeto de longo prazo pode reverter este quadro. O primeiro passo é a massificação com a ampliação e organização da prática dos esportes nas escolas, nos bairros, nas praças, etc.

A construção e melhoria dos espaços para a prática incluindo um centro de esportes, onde os destaques poderiam ser mais bem apoiados do que com as atuais, vergonhosas e muitas vezes insuficientes, apoio para viagens e competições que hoje se pratica.

Já existe hoje na cidade, uma massa crítica considerável de gente especializada nas mais diferentes modalidades esportivas. Há gente interessada em montar projetos sérios, de médio e longo prazo. Há estudantes adolescentes e jovens espalhados em nossas periferias sedentos de uma oportunidade para se dedicar a algo, que possa não só fazer crescer sua auto-estima, como projetá-lo no cenário desportivo do estado e do país.

A seleção e a filtragem dos melhores e de maior potencial é tarefa natural que não exclui a preocupação com a formação cidadã do jovem que poderá seguir outros caminhos tendo o esporte, apenas como um apoio de sua saúde, de afirmação e de inclusão social.

Enfim, nesta área também precisamos de planejamento, organização, seriedade e determinação para um trabalho de longo prazo. Quem sabe assim no Pan de 2015, 2019 ou 2023 o quadro seja diferente. Até lá os royalties, já nos seus estertores, poderão retornar os acertos tomados nas políticas públicas desenvolvidas com seriedade e determinação. Oxalá!

Publicado na Folha da Manhã em 27 de julho de 2007.

20 julho 2007

Lamentável, mas evitável!

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
E-mail:
moraes.rol@terra.com.br

A ocorrência de um acidente é sempre um momento triste. É compreensível que a maioria das pessoas queira mais, descobrir um culpado do que apurar suas causas. Seja no ambiente de trabalho, no lazer, nas rodovias, ou aeroportos, raramente, a ocorrência de um acidente tem uma única causa. O normal é a existência de uma seqüência de causas que leva ao acidente.

Quase sempre, a ocorrência de um acidente com graves conseqüências é precedida de pequenos incidentes, que se detectados e apurados poderiam levar à prevenção do acidente maior. Frank Bird, um estudioso das questões relativas à prevenção de acidentes mostrava numa pirâmide este processo. Na sua base ele situava os pequenos “incidentes” e no seu topo, os acidentes graves e de grandes proporções como o ocorrido com o avião da TAM em São Paulo.

Esta análise não tem nada a ver, com a apuração das responsabilidades civis e criminais decorrentes do acidente, onde não há como se deixar de identificar os erros com o indiciamento dos seus responsáveis. Porém, para se prevenir futuras ocorrências, o mais importante é o levantamento das causas desde as mais simples e distante, às mais complexas e próximas.

Repito: a ocorrência de acidente não é uma coisa natural. Ele é conseqüência de condições de insegurança presentes em equipamentos, processos ou pessoas que, se identificados em inspeções ou auditorias exigentes permitiriam a prevenção do ocorrido.

Aumento do fluxo de passageiros. Ampliação da quantidade de horas de vôos diárias das aeronaves. A pressão por aumento de escalas e passageiros por vôo ajudam a reduzir o custo por hora voada que justificam novas reduções de custos das passagens para criação de novas demandas, num ciclo que alguns chamam de virtuoso. Essas ações, de forma isolada ou complementar podem, de alguma forma, contribuir mesmo que secundariamente, para o aumento dos acidentes aéreos.

A duplicidade de atribuições dos órgãos governamentais de regulação como ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), Infraero, Ministério da Aeronáutica pode ser somada às possíveis causas anteriores. Há algum tempo se fala dos problemas do aeroporto de Congonhas.

Além de problemas de projeto e do adensamento populacional do entorno do aeroporto, a qualidade dos treinamentos dos pilotos são peças do dominó, que tombadas uma a uma geram o infortúnio grave. Lamentável é sempre identificar que não há como voltar ao momento anterior ao acidente. Que as famílias das vítimas tenham forças, para suportar, o peso duplo da perda prematura das vidas, assim como, da pressão da publicidade ampliada por um acidente desta proporção.

Publicado na Folha da Manhã de 20 de julho de 2007.

13 julho 2007

Moeda & moenda

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Encontrei o argumento-título deste artigo num texto religioso. Nele, o autor, ao invés de supor uma contraposição – fato comum à maioria das teses maniqueístas das religiões - tenta demonstrar que elas podem se complementar:

“Moeda é peça que representa dinheiro. Moenda é peça que mói alguma coisa. Moeda é força que valoriza. Moenda é força que transforma. Moeda é finança. Moenda é ação. Moeda é possibilidade. Moenda é suor. Moeda é recurso. Moenda é utensílio. A moeda apóia. A moenda depura. A moeda abona. A moenda prepara. Moeda parada é promessa estanque. Moenda inerte é instrumento inútil. Moeda mal dirigida traz sofrimento. Moenda mal governada gera desastre”.

Magistral, não? Mais interessante ainda ficará se transportarmos o argumento para a realidade de nossa região que hoje vive da moeda, como no passado viveu das moendas. Releia toda o parágrafo acima, vinculando, a moeda aos atuais royalties e a moenda, ao trabalho duro que produz a cana e seus derivados, desde o engenho, às atuais usinas.

A idéia de se complementarem vale para o texto acima do Hilário Silva, mas parece impossível na realidade em que vivemos, onde a “elite branca” que antes controlava a moenda, hoje segura a moeda. Segura, puxa e não quer largar.

Temos um município em mutação, não apenas da moenda para a moeda, mas da roça para a área urbana, da rua do homem em pé, para a sala de espera do político no poder, que dono da moeda, hoje controla a moenda para espremer os que são contra a abastança dos gastos.

Moenda que depende da moeda não apenas pelo “n” no meio, mas também pelo sufixo que faz a moeda chegar ao Fundeca-n-a. O etanol tal qual a moenda que tem o “n” no meio, também depende da moeda que se faz presente pelos royaltyes do mineral do fu-n-do do mar.

Orçamento que é moeda também tem “n” no meio como inde-n-ização, que como já é voz corrente é fi-n-ita, e como tal, não deve ser estanque e nem mal gerida.

Moenda lembra escravidão e o doce mel do açúcar no engenho da casa grande e da senzala. A moeda moderna lembra plataforma, perfuração e exploração. Como a moenda, ela extrai o ouro negro dos royalties com a moeda fácil das obras superfaturadas, das inexigibilidades de licitação e do fisiologismo que escraviza e tenta esconder as novas formas de senzala.

Espero que a moeda não nos leve à moenda que tritura as facilidades da vida, afastando dos lábios, o doce recado que nos ensina a simples figura de linguagem destas duas mágicas palavras.

Publicado na Folha da Manhã em 13 de julho de 2007.

06 julho 2007

José, a análise e o analista

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

José anda acabrunhado. Nem a cerveja que gosta de tomar tem saboreado mais. Na última conversa que teve no boteco com os amigos há dois meses, José disse que gostaria de ser sociólogo ou antropólogo, só para tentar compreender, o que vem se passando em nossa sociedade.

José tem batido na tecla de que alguns valores ou, estão invertidos, ou ele está vendo coisas imaginárias. Às vezes acha que a lucidez - que ainda julga manter - possa ser reflexo do distanciamento do cotidiano que propositalmente tomou. José acha que esta distância pode estar permitindo ver coisas, que outros estariam fazendo questão de não enxergar.

José segue na sua análise, mais apropriada a um botequim, que a um texto de jornal ou da academia: “o município nadando em dinheiro, obras e serviços públicos de qualidade cada vez mais duvidosas com preços estratosféricos, inexigibilidades e... o que antes era imoral hoje engorda.”

Nesta angústia José acabou se deparando com escritos do antropólogo Gilberto Velho e viu lá uma luz que poderia iluminar uma ponte que ligaria o nacional, ao regional e especialmente, ao local: “a sociedade vive um círculo vicioso que vincula a impunidade à corrupção e esta à violência.” José se entusiasmou ao ler outra observação de Velho: “vivemos um momento em que faltam ao homem público exemplos de ética e honestidade.”

Apesar de concordar sobre a necessidade de exemplos, José (embora, meio perdido, ele só acha as coisas) acha que mesmo sendo verdade o fato, de que exemplos de ética e honestidade estejam longe daqui, ainda assim, não seria o caso de buscar governos paternalistas e populistas que a procura de gente de exemplos pode levar.

José, quando analisa menos e propõe mais, diz acreditar mais, na organização da sociedade para exigir mais transparência e controle das políticas públicas, do que em discursos ou pessoas.

Ainda sobre o cotidiano José não tem entendido o por quê da Câmara Municipal ter adotado como regra de procedimento, reuniões sigilosas com autoridades, cujas ações tiveram questionamentos sobre lisuras. José fica nervoso com alguns destes assuntos e chega a discursar: “a administração é pública, os recursos são públicos, então que história é esta de conversa reservada? Se for para ser assim, porque a Casa do Povo precisaria de espaço mais amplo e garboso como o do Fórum? Para entregar títulos de cidadania, fazer homenagens e outros convescotes do gênero?”

José tem se achado um cara estranho. Está procurando analista e uma bolsa “proba” que pague esta conta. Alega que há bolsas para tudo por quê não pra cabeça? José só faz questão de lembrar que depois não aceitará chantagem de quem queira lhe insinuar: “E agora José?”

PS.:Publicado na Folha da Manhã em 06 de julho de 2007