25 janeiro 2008

Complexos

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

É relativamente comum que pessoas de meia-idade, como este articulista, comecem a desenvolver certas manias. Uma delas é a de implicar com certas palavras. Assim, voltei ao hábito, salutar por sinal, de recorrer aos velhos e bons dicionários. Como se pode ver uma mania se liga a outras.

Hoje minha implicância é com o termo complexo. Não falo da palavra quando relacionada à confusão ou complicação, ou algo que o valha explicado lá no Aurélio.

A minha invocação é sobre o termo que os empreendedores passaram a adotar para os investimentos, segundo eles, de maior porte. Porém, maior é maior e, não necessariamente, complexo. Assim está surgindo o Complexo Petroquímico do estado do Rio de Janeiro (Comperj) que quase foi em Guriri e acabou em Itaboraí. Agora o Complexo Portuário do Açu.

Aproveito o parêntese para pensar junto com você leitor: teria sido para a região, em termos de investimentos, uma boa, esta troca de complexos, ou melhor, de empreendimentos?

O tempo dirá. Porém, mais uma vez recorrendo à análise do tempo, que é aquilo que chamamos de história e que nos ajuda a imaginar o futuro, fico a analisar sobre a forma que nossa região está entrando na era da globalização.

Na época da cana o senhorzinho plantava, colhia, esmagava e cozinhava a cana em busca do açúcar produzido com a ajuda dos escravos e depois dos baixos assalariados. Desde lá, seus ganhos eram negociados pelo vil metal, nos distantes escritórios do Rio.

O petróleo do litoral da nossa Baixada vai direto para os mercados globais, também negociados bem longe. Por aqui ficam somente os trocados sob a forma de royalties.

Os tempos se modificaram junto com os complexos, mas a historinha continua na sua marcha. Complexos hoje são negociados, antes mesmo de serem construídos. Mudam as pessoas, mantém-se a história: ganham os mesmos que ganhavam antes, não importando se o mercado está aqui ou acolá.

Talvez seja mesmo um problema de complexo, não de inferioridade, mas de ideais: o de que os frutos do desenvolvimento fossem repartidos. Enfim, melhor ser menos complexo, embora permaneça a madura implicância com a palavra.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 25 de janeiro de 2007.

18 janeiro 2008

Postura e im-postura

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

“Uma cidade é algo mais que o somatório de seus habitantes, é uma unidade geradora de um excedente de bem estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem – independente de outras razões – viver em comunidade a viverem isoladas.”
CULLEN, Gordon, em Paisagem Urbana.

O dicionário do Aurélio define postura(s) como sendo um “conjunto de preceitos municipais que obriga os munícipes a cumprirem certos deveres de ordem pública”.

A organização e a ocupação do solo das cidades é atribuição dos representantes políticos que por delegação popular ocupam os cargos executivos e legislativos, cabendo a estes últimos, as responsabilidades de criar leis e normas que possam garantir e assegurar, a plena realização das funções sociais e econômicas de um município garantindo assim, o exercício do direito de cidadania e de bem-estar a seus habitantes.

Apesar da gestão urbana ser de responsabilidade dos três níveis de governo: união, estados e municípios, é sobre este último que recai as maiores competências que asseguram o “bem estar e a vida em comunidade”, aspiradas por Gordon e por todos nós.

Nos primórdios da gestão urbana, o chamado Código de Posturas Municipal, agrupava documentos que reuniam o conjunto das normas municipais, em todas as áreas de atuação do poder público. Com a evolução da vida em sociedade, as atribuições do poder local passaram a ser regidas por leis específicas desdobradas do Plano Diretor. Assim, o Código de Posturas ficou restrito, às demais questões de interesse local, notadamente aquelas referentes, ao uso dos espaços públicos, ao funcionamento de estabelecimentos, à higiene e ao sossego público.

Neste sentido, o desejo de ver uma cidade planejada, bem arrumada, cuidada, com espaços específicos destinados ao lazer e ao sossego de forma coletiva é um direito de todos, enquanto, o planejamento de projetos, programas e ações em prol da boa convivência é dever do gestor.

Nesta linha, não há que se falar em pretensões de punição e nem de perseguição. Deve haver sim, o dever de garantir o bem estar e as facilidades da maioria, para que a vida em comunidade seja, se não agradável, ao menos, suportável. Bom que em Campos, tenham se interessado em refazer o antigo código. Porém, ouso dizer, que nosso maior problema é sim, o interesse em aplicá-lo. O fisiologismo e o eleitoralismo não deixam. Não há quem tenha coragem.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 18 de janeiro de 2007.

11 janeiro 2008

O cheiro

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

De todos os sentidos humanos guardo maior simpatia pelo olfato. Não quero com isso dizer que abriria mão, de algum dos outros, em prol do cheiro. Trata-se de simpatia mesmo, ou quem sabe, de personalidade. Através dele volto ao passado, revivo ambientes, pessoas e situações mais até mesmo, do que com a visão e a audição usados, por exemplo, para ver fotos e vídeos.

Já devem ter percebido que prefiro referir ao cheiro ao seu sinônimo: o olfato. É mais claro, direto e simples. Pois bem, o cheiro me transporta a momentos da infância, da adolescência, da juventude e a situações vivenciadas que qualquer um dos outros sentidos.

Já me peguei rindo sozinho, diversas vezes, ao passar por determinado local que me fizesse entrar neste túnel do tempo. Cheiro de Natal, cheiro de bolo na cozinha da infância. Cheiro de bola de couro nova. Cheiro de figurinhas. De pão assado direto na boca do fogão. O aroma (outro apelido sofisticado do cheiro) de pipoca na praça, etc.

Tem gente que associa cheiro apenas às comidas. Verdade que muita gente usa o olfato para escolher comidas. Algumas até são mais saborosas no cheiro do que no sabor. O melão campista talvez seja o exemplo mais evidente. Também já me peguei relembrando a juventude com cheiro de flores presentes no jardim da casa dos meus pais no Turfe. Cheiro de terra no início da tempestade. Cheiro da madrugada e dos primeiros minutos da manhã.

Quem nunca invejou o cheiro de churrasco feito pelo vizinho? Por falar em inveja lamentei por um amigo quando ele comentou, durante um almoço, ter perdido quase que completamente seu olfato numa cirurgia para correção dos problemas de uma sinusite crônica. Cheiro de dinheiro novo, de carro novo, de roupa velha, etc. levam aos questionamentos sobre a riqueza e a miséria... Cheiro do ralo, do sexo, do neném são buscas que ficam cada vez mais longe do que se procura.

O cheiro tem esta outra virtude. A maioria deles é difícil de ser buscada ou comprada como um perfume. Eles aparecem sem serem chamados ou desejados. Surgem numa esquina, num almoço, durante uma aula ou uma pregação religiosa e aí se instalam como trailers de filmes já protagonizados. Quase sempre são segredos que cada um de nós guarda com certa vergonha de expor. Fora os bons odores, não há como deixar de registrar o crescente mau cheiro exalado em torno dos royalties na nossa cidade. Xô, catinga!

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 11 de janeiro de 2007.

07 janeiro 2008

Oportunidades e ameaças pairam sobre o Açu

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Há um frisson sobre a repercussão que o Complexo Portuário do Açu poderá trazer para a nossa região. Os lançamentos de novos empreendimentos imobiliários, assim como os valores dos aluguéis na região estão ainda mais caros, do que já estava há seis meses atrás.

Não há dúvidas de que há gente interessada, na repercussão do que será efetivamente montado, na retroárea de 6,9 mil hectares que o grupo MMX conseguiu que a prefeitura de São João da Barra considerasse como área, de um distrito industrial no novo Plano Diretor do município.

Verdade que para o desenvolvimento regional, o porto é um investimento com capacidade de se sustentar na era pós-royalties. Além disso, um porto, na sociedade internacionalizada em que vivemos, com negócios intercontinentais crescentes, é uma janela para o mundo que permite levar e trazer oportunidades.

Melhor ainda, se à sua logística, for efetivamente estruturada, o eixo modal unindo o transporte marítimo, ferroviário, rodoviário e o aeroviário. Este último, quase ao lado do porto, terá o aeroporto que a Petrobras começará a construir neste início de ano. Com pista com capacidade de receber grandes aviões, ele substituirá o vizinho e já congestionado heliporto.

Mesmo preferindo investimentos de pequenos e médios portes, por ver neles, maior capacidade de geração de emprego e especialmente, menor impacto ambiental e maior aproveitamento da sociedade local, lembro, que nem de longe, um empreendimento de grande porte como este, tem capacidade de substituir, as receitas atuais dos royalties.

Verdade também, que este investimento de vulto trará para cá, milhares de pessoas, algumas inclusive aqui já estão trabalhando nas máquinas de terraplanagem e muitos outras virão demandando habitação, saneamento, educação e saúde que será disputada, com quem aqui já está excluído das oportunidades, seja por inépcia, falta de qualificação e/ou tutela eleitoral.

Se existir vontade de conciliar vantagens, aproveitar oportunidades, neutralizar ameaças e compensar impactos, os gestores públicos locais deveriam se integrar e traçar um plano de ação com metas, obrigações e responsabilidades. Fazer isso em meio à disputa eleitoral que se avizinha é um desafio a ser vencido. Fora disto teremos o desfecho conhecido: ganham os que sempre ganharam e perdem os que sempre perderam!

PS.: Publicado em 4 de janeiro de 2008 na Folha da Manhã.