Saudade
Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br
Ainda não saiu da minha cabeça a expressão dita por Chico Anísio, numa entrevista não sei onde e nem quando, em que o comediante afirmou que a saudade era uma coisa que não servia para nada e, sendo assim, ele a dispensava. Não me recordo de ter lido o resto, ou a explicação para esta sua conclusão ou desilusão.
Num contraponto, desde daquele instante, também me impregnou o pensamento a expressão pós-morte, do professor Clóvis Tavares referindo-se a saudade como o metro do amor. Paradoxais ou pontuais, os conceitos podem reproduzir visões do mundo do qual deixaremos saudades ou esquecimentos.
Sempre imaginei que, independente da percepção que cada um de nós tem dos mistérios da vida e do natural fim dela, que é a morte, que a trajetória ou o rastro que cada um de nós deixa, é a marca que pode fazer com que a noção de valores e de ética possam ser práticas que valham à pena.
Neste exercício tem gente que consegue a proeza de sentir saudade do que ainda não ocorreu. Vêem os filhos grandes, enxergam netos, família e amigos em situações que desejam que logo cheguem, para aplacar a saudade futura - também confundida com ansiedade (que talvez seja irmã e antônima da saudade) – também guardam os receios de que o tempo de hoje será saudade amanhã.
Saudade boa e saudade ruim. Quanto mais próxima do passado que se sente saudoso, mais dolorida é a saudade. Qual a química que faz a saudade temperada com o molho das horas, dos dias e dos anos, deixar de ser preta e branco, para se transformar na cor suave da saudade colorida, mesmo que em tons, ainda pastéis, mas certamente mais leves e agradáveis? Quem inventou isso?
Quem consegue sentir saudade de um tempo que ainda não chegou é o otimista que todos admiramos e desejaríamos ser. Poucos sentem saudades dos pessimistas ou dos realistas que enxergam o futuro com olhos diferentes com que vêem o passado. Pessimistas apreciem o passado mais que o futuro.
Saudade é dor ou é alimento? Quando a sentimos normalmente reformatamos a visão de futuro e nos aplumamos na condução do presente. Saudade, melhor senti-la, do que desejá-la. Saudade melhor tê-la do que expulsá-la, porque assim, será ela sinônima de relações e rastros construtivos. Com ou sem saudades, Feliz Natal!
PS.: Publicado na Folha da Manhã em 21 de dezembro de 2007.
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br
Ainda não saiu da minha cabeça a expressão dita por Chico Anísio, numa entrevista não sei onde e nem quando, em que o comediante afirmou que a saudade era uma coisa que não servia para nada e, sendo assim, ele a dispensava. Não me recordo de ter lido o resto, ou a explicação para esta sua conclusão ou desilusão.
Num contraponto, desde daquele instante, também me impregnou o pensamento a expressão pós-morte, do professor Clóvis Tavares referindo-se a saudade como o metro do amor. Paradoxais ou pontuais, os conceitos podem reproduzir visões do mundo do qual deixaremos saudades ou esquecimentos.
Sempre imaginei que, independente da percepção que cada um de nós tem dos mistérios da vida e do natural fim dela, que é a morte, que a trajetória ou o rastro que cada um de nós deixa, é a marca que pode fazer com que a noção de valores e de ética possam ser práticas que valham à pena.
Neste exercício tem gente que consegue a proeza de sentir saudade do que ainda não ocorreu. Vêem os filhos grandes, enxergam netos, família e amigos em situações que desejam que logo cheguem, para aplacar a saudade futura - também confundida com ansiedade (que talvez seja irmã e antônima da saudade) – também guardam os receios de que o tempo de hoje será saudade amanhã.
Saudade boa e saudade ruim. Quanto mais próxima do passado que se sente saudoso, mais dolorida é a saudade. Qual a química que faz a saudade temperada com o molho das horas, dos dias e dos anos, deixar de ser preta e branco, para se transformar na cor suave da saudade colorida, mesmo que em tons, ainda pastéis, mas certamente mais leves e agradáveis? Quem inventou isso?
Quem consegue sentir saudade de um tempo que ainda não chegou é o otimista que todos admiramos e desejaríamos ser. Poucos sentem saudades dos pessimistas ou dos realistas que enxergam o futuro com olhos diferentes com que vêem o passado. Pessimistas apreciem o passado mais que o futuro.
Saudade é dor ou é alimento? Quando a sentimos normalmente reformatamos a visão de futuro e nos aplumamos na condução do presente. Saudade, melhor senti-la, do que desejá-la. Saudade melhor tê-la do que expulsá-la, porque assim, será ela sinônima de relações e rastros construtivos. Com ou sem saudades, Feliz Natal!
PS.: Publicado na Folha da Manhã em 21 de dezembro de 2007.
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