30 novembro 2007

A dor do pesca-dor

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Alguém já disse que não há dor maior que a da perda de um filho. A foto do Silésio Corrêa, neste jornal, na quarta-feira, também foi estampada nos demais jornais da cidade. Nas entrelinhas, o fato demonstra, que a cena imóvel e doída, deve ter permanecido estática um longo tempo, expondo a dor e a agonia do pai, o lavra-dor e pesca-dor de Barra do Furado, Magno Ribeiro da Silva.

Em posição desolada, Magno com a cabeça emborcada lamentava a perda de seu filho, Michel Ribeiro de Souza, de 15 anos, o mais velho, de um total de cinco filhos. Magno enquanto vivia a dor, que deve doer como um punhal atravessado no peito, possivelmente repetia para si mesmo, o que todos os pais dizem nesta situação: por quê?

Magno ainda disse ao repórter: “mesmo diante dessa cena triste, tenho que ser forte para dar apoio à minha família”. Nesta ótica, a dureza da vida se torna dobrada, pois além do sentimento de perda, terá a obrigação de tocar o barco, em meio à tormenta que lhe trouxe a dor ainda não lavrada.

A cena me fez lembrar a imagem do pai abraçado, ao corpo da filha, morta, num outro desastre automobilístico, ano passado, em que cinco jovens perderam a vida, na pista da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Gabriel F. Padilla, pai de Ana Clara lançou recentemente o livro “Relato de um amor” que vem fazendo sucesso entre os adolescentes e jovens.

O relato de Padilla, que é um publicitário, talvez ajude a fazer os jovens pensarem no que todos, quando temos aquela idade, irresponsavelmente fazemos, correndo o risco de marcar irremediavelmente, com a mais doída das dores, os pais que tanto amamos.

Magno sofre agora, tanto quanto o Gabriel Padilla, que disse em seu livro que “nossos filhos são como água nas mãos em forma de concha. Uma hora nos escorrem por entre os dedos”. A sua dor pescada fora d’água, numa beira da estrada, não mostra uma juvenil irresponsabilidade, mas a madura, dura e irresponsável realidade da violência do trânsito em nossa região.

O progresso material e econômico sonhado por muitos, ainda não chegou para esta região, mas a violência, em suas mais variadas formas, está sendo pescada por muitos, que com dor e lamento, vivem a vida que nossa região lhes proporciona.

Publicado na Folha da Manhã em 30 de novembro de 2007.