Citação infeliz em conversa de vendedor
Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br
O presidente Lula, no seu elogiável trabalho de mascate vendendo mundo afora nossas potencialidades, agora, especialmente, o etanol e os bio-combustíveis, acabou pisando na bola no quando na Espanha, ao rebater as críticas sobre as condições de trabalho no setor canavieiro, disse: “Será que o corte de cana-de-açúcar é mais penoso do que trabalhar numa mina de carvão? E por quantas décadas, ou por quantos séculos, o carvão determinou a economia do mundo?”
Não dá para justificar uma coisa com outra. É inaceitável que condições de trabalho, quase escravocratas de séculos atrás, sejam reproduzidas hoje, em qualquer situação. Ano passado pelo menos quinze trabalhadores morreram, apenas em São Paulo, por causas não determinadas.
Pesquisadores-médicos do Hospital das Clínicas estão investigando a suspeita de que a causa principal tenha sido, a exaustão causada pelo exagerado esforço físico no corte de cana.
Fora isso, ainda há inúmeros casos de canavieiros trabalhando de forma clandestina, sem carteira assinada, sem segurança, sem o uso de EPIs, etc. Correto e bom que queiramos vender nosso etanol lá fora. Que briguemos para reduzir as taxas de importação hoje cobradas pelos países desenvolvidos, mas não podemos deixar de exigir, a melhoria das condições de trabalho do canavieiro, que ainda são precaríssimas, na maioria das regiões produtoras do nosso país.
É inaceitável que a remuneração seja também tão baixa, em torno de 1/3 de R$ 0,01 por golpe de facão. Até uma década atrás, o bóia-fria cortava entre 4 a 6 toneladas de cana por dia. Hoje, este número, considerado mínimo, oscila em torno de doze toneladas cortadas diariamente.
O presidente é bem intencionado quando quer vender nosso país lá fora. É também compreensível, que ele queira fugir das artimanhas que o mercado global arruma, para impor barreiras alfandegárias, sanitárias e até de uma falsa preocupação com o meio ambiente e com a saúde do nosso trabalhador.
Porém, em troca de ganhos de capital para nossos produtores e industriais, não se pode deixar que condições de trabalho e de ganho dos trabalhadores sejam equivalentes àquelas vivenciadas há mais de um século por mineiros. Isto não pode ser considerado natural.
Avancemos sim, no plantio controlado ambientalmente da cana, no comércio internacional do etanol e dos bio-combustíveis, mas, não deixemos, os trabalhadores sofrerem as conseqüências de uma produção barata e exploradora como faz a China. Tenho certeza que com a origem de vida do nosso presidente, sua fala não deve ter sido, nada além, de uma conversa de vendedor.
Publicado na Folha da Manhã em 21 de setembro de 2007.
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br
O presidente Lula, no seu elogiável trabalho de mascate vendendo mundo afora nossas potencialidades, agora, especialmente, o etanol e os bio-combustíveis, acabou pisando na bola no quando na Espanha, ao rebater as críticas sobre as condições de trabalho no setor canavieiro, disse: “Será que o corte de cana-de-açúcar é mais penoso do que trabalhar numa mina de carvão? E por quantas décadas, ou por quantos séculos, o carvão determinou a economia do mundo?”
Não dá para justificar uma coisa com outra. É inaceitável que condições de trabalho, quase escravocratas de séculos atrás, sejam reproduzidas hoje, em qualquer situação. Ano passado pelo menos quinze trabalhadores morreram, apenas em São Paulo, por causas não determinadas.
Pesquisadores-médicos do Hospital das Clínicas estão investigando a suspeita de que a causa principal tenha sido, a exaustão causada pelo exagerado esforço físico no corte de cana.
Fora isso, ainda há inúmeros casos de canavieiros trabalhando de forma clandestina, sem carteira assinada, sem segurança, sem o uso de EPIs, etc. Correto e bom que queiramos vender nosso etanol lá fora. Que briguemos para reduzir as taxas de importação hoje cobradas pelos países desenvolvidos, mas não podemos deixar de exigir, a melhoria das condições de trabalho do canavieiro, que ainda são precaríssimas, na maioria das regiões produtoras do nosso país.
É inaceitável que a remuneração seja também tão baixa, em torno de 1/3 de R$ 0,01 por golpe de facão. Até uma década atrás, o bóia-fria cortava entre 4 a 6 toneladas de cana por dia. Hoje, este número, considerado mínimo, oscila em torno de doze toneladas cortadas diariamente.
O presidente é bem intencionado quando quer vender nosso país lá fora. É também compreensível, que ele queira fugir das artimanhas que o mercado global arruma, para impor barreiras alfandegárias, sanitárias e até de uma falsa preocupação com o meio ambiente e com a saúde do nosso trabalhador.
Porém, em troca de ganhos de capital para nossos produtores e industriais, não se pode deixar que condições de trabalho e de ganho dos trabalhadores sejam equivalentes àquelas vivenciadas há mais de um século por mineiros. Isto não pode ser considerado natural.
Avancemos sim, no plantio controlado ambientalmente da cana, no comércio internacional do etanol e dos bio-combustíveis, mas, não deixemos, os trabalhadores sofrerem as conseqüências de uma produção barata e exploradora como faz a China. Tenho certeza que com a origem de vida do nosso presidente, sua fala não deve ter sido, nada além, de uma conversa de vendedor.
Publicado na Folha da Manhã em 21 de setembro de 2007.
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