24 agosto 2007

Tá faltando o grito da arquibancada

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Há algum tempo venho tentando observar as mudanças que o dinheiro dos royalties vem provocando em nossa sociedade. A abundância de recursos quase sempre é mau conselheira.

Em homenagem ao nosso presidente, que por aqui passou recentemente, este articulista lançará mão de uma metáfora para tentar explicar aquilo que o preocupa.

As receitas dos royalties poderiam ser comparadas à carreira de um jogador de futebol. Antes que você despreze o texto e considere que este articulista enlouqueceu de vez, saiba que ele não fala de patrocínio para os nossos times de futebol. Isto não é novidade e nem exclusividade.

O argumento é que há semelhanças enormes entre o apogeu do craque e as receitas gordas dos royalties, assim como o presente de abastança tende a um futuro, igualmente negro, como o ouro que se extrai do fundo da nossa plataforma continental.

Embora tanto para um quanto para outro, as bases para o seu desenvolvimento aconteçam em tempos remotos, sempre aparecem lances que permitem a idéia de que são acidentais.

Boas exibições geram bons contratos, assim como boas negociações no Congresso produzem leis que obrigam o pagamento de quotas mensais e participações especiais trimestrais.

O tamanho da carreira de ambas é curto e pode ser interrompido a qualquer momento, por um acidente ou uma mudança nas regras. A pressão de outros jogadores pode criar tetos de salários ou de repasses, na defesa da justiça que exige tratamento igualitário como o pagamento de bichos.

Um bom marketing da carreira cria uma marca de qualidade, da mesma forma que o uso indevido das receitas recebidas geram uma imagem de desperdício e desmerecimento.

O novo rico, em um ou outro caso, pode ser discreto e compenetrado investidor que pensa no futuro de fim de carreira e das reservas, ou gastador e esbanjador que vive o presente esquecendo o futuro. Neste caso, os shows, as festas, os carros caros, casas e apartamentos supervalorizados consomem o dinheiro que hoje abunda e amanhã faltará.

A fartura do presente gera amigos e empresários com idéias de investimentos e gastos mirabolantes que sumirão na mesma velocidade da chegada da escassez.

O presente gera disputa de poder pelo controle da boca do cofre, da mesma forma que a disputa por entrar jogando no Maracanã. A única mudança que pode alterar o curso da carreira, tanto de um quanto de outro, é a manifestação da torcida na arquibancada. Sem estes gritos e pressões, nossos adversários continuarão a entrar com bola e tudo nas redes da mamata.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 24 de agosto de 2007.