13 julho 2007

Moeda & moenda

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Encontrei o argumento-título deste artigo num texto religioso. Nele, o autor, ao invés de supor uma contraposição – fato comum à maioria das teses maniqueístas das religiões - tenta demonstrar que elas podem se complementar:

“Moeda é peça que representa dinheiro. Moenda é peça que mói alguma coisa. Moeda é força que valoriza. Moenda é força que transforma. Moeda é finança. Moenda é ação. Moeda é possibilidade. Moenda é suor. Moeda é recurso. Moenda é utensílio. A moeda apóia. A moenda depura. A moeda abona. A moenda prepara. Moeda parada é promessa estanque. Moenda inerte é instrumento inútil. Moeda mal dirigida traz sofrimento. Moenda mal governada gera desastre”.

Magistral, não? Mais interessante ainda ficará se transportarmos o argumento para a realidade de nossa região que hoje vive da moeda, como no passado viveu das moendas. Releia toda o parágrafo acima, vinculando, a moeda aos atuais royalties e a moenda, ao trabalho duro que produz a cana e seus derivados, desde o engenho, às atuais usinas.

A idéia de se complementarem vale para o texto acima do Hilário Silva, mas parece impossível na realidade em que vivemos, onde a “elite branca” que antes controlava a moenda, hoje segura a moeda. Segura, puxa e não quer largar.

Temos um município em mutação, não apenas da moenda para a moeda, mas da roça para a área urbana, da rua do homem em pé, para a sala de espera do político no poder, que dono da moeda, hoje controla a moenda para espremer os que são contra a abastança dos gastos.

Moenda que depende da moeda não apenas pelo “n” no meio, mas também pelo sufixo que faz a moeda chegar ao Fundeca-n-a. O etanol tal qual a moenda que tem o “n” no meio, também depende da moeda que se faz presente pelos royaltyes do mineral do fu-n-do do mar.

Orçamento que é moeda também tem “n” no meio como inde-n-ização, que como já é voz corrente é fi-n-ita, e como tal, não deve ser estanque e nem mal gerida.

Moenda lembra escravidão e o doce mel do açúcar no engenho da casa grande e da senzala. A moeda moderna lembra plataforma, perfuração e exploração. Como a moenda, ela extrai o ouro negro dos royalties com a moeda fácil das obras superfaturadas, das inexigibilidades de licitação e do fisiologismo que escraviza e tenta esconder as novas formas de senzala.

Espero que a moeda não nos leve à moenda que tritura as facilidades da vida, afastando dos lábios, o doce recado que nos ensina a simples figura de linguagem destas duas mágicas palavras.

Publicado na Folha da Manhã em 13 de julho de 2007.