20 agosto 2007

Plantando bom exemplo

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Mais que alegre fiquei emocionado com o projeto do Instituto Terra, desenvolvido pelo premiadíssimo fotógrafo Sebastião Salgado e mostrado em matéria de O Globo no último domingo.

O fato da matéria ter saído no dia dos Pais e ser sobre a cidade mineira de Aimorés poderia ser apenas uma simples coincidência. Explico: conheci Aimorés em 1985 quando trabalhava numa empresa especializada em manutenção de alarmes. Aimorés foi a cidade em que meu pai Joemio tomou posse no Banco de Brasil. Isto explica minha satisfação inicial com o projeto.

Aimorés é uma cidade pequena, sem características especiais que acaba fazendo a gente pensar: como alguém pode gostar de morar naquele lugar? O nascimento das cidades não é algo programado. Algumas poucas são planejadas como Brasília, Goiânia e outras poucas que nascem ao redor de grandes empreendimentos. A maioria tem uma ou mais razões históricas e geográficas que determinam seu nascer e crescer. No caso específico Aimorés cresceu e foi mudada quando tiraram o curso do rio Doce de dentro da cidade para alimentar a barragem de uma hidrelétrica.

O que me chamou mais a atenção foi a forma como o projeto está sendo desenvolvido com participação da sociedade e apoio de gente importante que o fotógrafo famoso carreou, como amigo e aliado nas andanças pelo mundo. Com investimentos de pouco mais de R$ 6 milhões recebidos das mais diferentes origens, eles já plantaram 1 milhão de árvores nativas, numa área equivalente a 334 campos de futebol e geraram 80 empregos diretos naquela parte da Mata Atlântica.

Por aqui, alguns dos financiamentos atendidos pelo Fundecam geraram até menos empregos. Verdade que os recursos investidos de lá são a fundo perdido, enquanto aqui retornam, embora sem juros e com baixa correção. Porém, por aqui, depois de quitadas as dívidas, o empreendedor faz o que quiser, inclusive, levanta acampamento e leva suas máquinas junto com os empregos, enquanto por lá se terá o ambiente recuperado e melhor qualidade de vida.

Sei que são situações diferentes. Projetos não devem ser copiados sem a observância das realidades de cada um dos lugares. Mas, me pergunto porque não estimular a formação de corredores de mata com estímulo à produção de mudas? Por lá formam também professores da rede pública, além de técnicos agrícolas ambientais que aprendem, a não espalhar pesticidas pela terra.

O projeto tem ainda expectativas, quase sonho, de estar formando uma nova geração de secretários de meio ambiente para as cidades daquela região. Como sugestão, penso que o Fundecam poderia obrigar seus contemplados, a investir em semelhantes contrapartidas ambientais. Seria o troco a ser devolvido, por aquele empresário que na propaganda oficial dizia: “não há dinheiro mais barato que esse no mundo”.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 17 de agosto de 2007.