26 agosto 2005

O adensamento e a verticalização da Pelinca

O adensamento e a verticalização da Pelinca

O padre Pelinca que hoje empresta seu nome a avenida que na prática se transformou em novo bairro, era vigário da paróquia de São Salvador no final do século XIX. De origem européia, foi quem oficiou o casamento entre Anita e o ex-presidente Nilo Peçanha. Consta que o padre morou numa chácara onde hoje se situa o Centro de Compras que também leva o seu nome.

O padre não benzeria o futuro que se anuncia para a região. Não é preciso ser especialista no assunto e nem morador da área para perceber que a Pelinca dentro de no máximo dez anos vai se tornar caótica. As construções verticais e o comércio da região aumentam a cada dia gerando retenções no fluxo de veículos na cidade que hoje já possui mais de 100 mil veículos licenciados.

O trânsito se soma aos já graves problemas da limitação das redes de água, esgoto e da ausência de galeria de águas pluviais. Ainda há tempo para se tomar algumas medidas. Talvez não seja possível esperar os debates e a conclusão do novo Plano Diretor para se tomar as primeiras medidas. Pelo menos duas são urgentes: a limitação do gabarito dos prédios a serem construídos e a garantia da exigência de que os novos prédios tenham pelo menos duas garagens por unidade habitacional para que seja dada liberação para as construções verticais.

Além disso, deve-se aumentar o rigor nas exigências para liberação de atividades comerciais, como estacionamento. O objetivo é regular a expansão da cidade conforme os interesses do cidadão. O papel do poder público não é o de inibir o crescimento econômico da cidade e sim o de regular aquilo que deve ser do interesse da coletividade. A prefeitura não pode ficar eternamente correndo atrás dos problemas que vão sendo criados por moradores e empreendedores. É possível conciliar interesses quando se atua com planejamento.

A Pelinca como bairro de comércio e lazer não é um problema. A inconveniência é o esgotamento das condições de moradia e de convivência no bairro. A continuidade do processo atual gerará no futuro a busca de novos locais de convívio, moradia e comércio, com o conseqüente esvaziamento da região, hoje considerada também central, no mesmo movimento que atualmente se vê em relação ao centro da cidade. Guardadas as proporções observemos o apogeu e o declínio de Copacabana, com o surgimento da Barra da Tijuca. Se a Pelinca hoje é a Ipanema ou a Copacabana campista, qual será a nossa Barra da Tijuca no futuro? É preciso planejamento e ação!

Roberto Moraes Pessanha
Presidente ONG Cidade 21
e-mail: rmoraes@cefetcampos.br

Publicado em 26 de agosto de 2005.