29 dezembro 2006

Coronel Ponciano pede juízo no novo ano

Roberto Moraes Pessanha

Professor do CEFET Campos

e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Como homem de arrojo e de correr na frente dos progressos, mas sempre demoroso em decisões, apelo por juízo no novo ano. Nada de invencionices e armação de convescotes. Originário da nossa Baixada, ainda desconjuro, toda vez que vejo informações dos preços das obras bancadas pela, mais que nunca, teúda e manteúda.

Antes de tomar assento em novo ano, bom seria uma reza em Santo Amaro pro Cabral. Este não descobriu o Brasil e nem, talqualmente seus antecessores, escreveu livro sobre segurança, mas se amontoou com os governantes dos demais estados da região, para acabar com sem-vergonhice e despautério de gente graúda ganhando para prender e soltar pardavascos que surrupiavam tostõeszinhos, de gente minha, em maquininhas dos infernos.

Nunca vi e não posso aceitar, homem de patente com espinha embodocada por conta de óculos, lupa ou coisa que o valha de gente que há muito, lançou âncoras com a moralidade.

Homem de patente precisa se livrar destes carrapatos de paletó que adoram o poder para armar arapucas e depois cascar fora mais feliz que cambaxirra.

Como sou cachaça de outros alambiques e menino educado em tabuada de frades vou escamotear histórias que rolam por aqui, sobre desplantes desta gente desbriada, que aprendeu rápido, com o cacau passado, os negócios de atacado da nossa manteúda cheia deste tal de róitis.

Vosmecê me conhece e sabe que não sou homem de estudos e nunca fui demandista de preocupação demasiada com futuros, mas acho que não vai precisar de gênio vingancista, para cobrar lá na esquina, as escaramuças e traquinadas dos demônios que andam aprontando por aí. Desconjuro! Mangalô três vezes, não quero ser urubu de malquerenças. Não sou homem de redemominho de desventuras. Por aqui faço devoção de descarrego, mas imploro, juízo a vosmecês. Fico roído de mágoa e contraído de um nó de choro que sufoca minha garganta, quando ouço previsões sobre nossa terra querida.

Peço desculpas pela minha falta de freios nos dentes. Avô Simeão diz que sempre fui linguarudo com sintoma de povo e também da política. Talvez isto explique as preocupações que trago em toda carta, ainda mais depois que soube que elas estavam saindo nas folhas.

Desconjuro mais uma vez! Por aqui Janjão Caramujo anda feliz com festança que estão armando para passagem de ano, sem invencionices de trio, shows e fogos em nossa festinha que ainda assim, garanto, será animada que as suas. Os comes e bebes serão os mesmos de sempre, leitoinha com farofa regada a guaraná champagne e água que passarinho não bebe. Avô Simeão já disse para segurar Janjão e Juju Bezerra que são os que gostam de farra e libertinagem.

Ando desassossegado de saudades da casa avarandada da rua da Jaca, das fruteiras de sua chácara e da época que batia os calcanhares e curava meu sentimento, em perna de moça de encantos escondidos. Abraço animoso a todos que perguntarem por mim. A esses diga que ando alegre e rindo de estourar as braguilhas. Lembrem que o mundo é um saco de pecados e que cada um arrasta sua penitência. Peço juízo e desejo ótimo 2007!


Publicado na Folha da Manhã em 29 de dezembro de 2006.

22 dezembro 2006

Natal e final de ano – época de contradições!

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes@fmanha.com.br

Nascimento e morte a maior das contradições. Comemora-se o nascimento de Cristo e a morte do ano que se vai. Celebram-se as compras e o aumento do seu índice, como um bom indicador da economia, ao mesmo tempo em que se deseja um consumo, menos irresponsável com quinquilharias que servem mais para poluir e encher os lixões, que satisfazer necessidades.

Sonha-se com um ano pródigo em boas notícias sabendo que a vida é feita de luta, onde vitórias e derrotas são meras conseqüências.

Solidariedade aparece nos sentimentos, mas a disputa por maiores vendas, luxo e poder continuam a repartir os espaços, porque ninguém muda o seu jeito de ser, pelo simples fato de ser Natal. A hipocrisia talvez aumente, mas não em proporção diferente à gorjeta que de forma indiferente deixamos para o lixeiro ou entregamos aos porteiros.

Porque nesta época, ou só nela, procura-se a miséria e os miseráveis para dardes de comer e de vestir, quando há outros tantos dias aguardando benevolência semelhante? A contradição não está na procura e sim na exclusividade da época.

Por que nos reunimos, se o que muitas vezes o que desejamos é nos aproximar de quem, pelo menos fisicamente, já não se faz presente?

Não são poucos os que reclamam da ansiedade com que certas pessoas vão às ruas sem saber por quê e nem para quê e que acabam por repetir, de forma quase autômata, gesto idêntico?

Por que procuramos a miséria longe, quando perto, ela lhe acena sem que você se aperceba? Miséria vista nas suas mais diferentes formas, desde a mais conhecida e evidenciada nesta época, como a da falta de pão ou, sob sintomas menos identificável como a da falta de carinho e consideração, quase sempre escondidos no fundo d’alma, escamoteadas nas compras e nos preparos das comidas e bebidas para a farta ceia vazia de significados e sentimentos.

Nesta época gosto do significado do balanço, sem a simples interpretação dos saldos, mas dos ganhos e perdas em todos os sentidos. O que efetivamente teve sentido no ano prestes a passar? Sentido amplo de resultados que ficam, que reproduzem, que fazem bem e não àqueles que aumentam as poupanças nas mesmas proporções das preocupações.

Aqui mais um paradoxo: se o que vale a pena, não cabe numa simples operação aritmética, porque não vivemos a somar significados, a multiplicar apoios, a diminuir as vaidades e as superficialidades e a dividir o pão nosso de cada dia? A contradição se amplia quando se verifica, que mais uma vez, só nos fazemos estas perguntas nesta época do ano.

A vida é simples e seu significado complexo. Descobrimos isso, ao ver que os verdadeiros religiosos são ateus ou agnósticos, que não vivem a comprar, um lugar no céu porque não acreditam nele, e só fazem o que fazem, pelo simples e significativo gesto de amor à humanidade.

Imagino que por conta destas coisas, o poeta pediu, que parassem o mundo para ele descer. Não sou poeta, mas também guardo este desejo. Porém, se já percebemos que não é possível parar o mundo, que paremos a nós mesmos, para pensar e lembrar que a Vida é simples e assim devíamos vivê-la. Peço desculpas, se eventualmente atrapalho o seu sentimento de festa, porque na verdade, aqui escrevo para você, como se comigo conversasse como amigo. Feliz Natal!

Publicado na Folha da Manhã em 22 de dezembro de 2006.

18 dezembro 2006

“Produto Ilusório Bruto”

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
rmoraes@cefetcampos.br

Eu imagino que o leitor já deve estar cansado de ouvir falar de royalties, milhões para lá, bilhão para cá, opa... também para lá, mau uso destes recursos, etc.

Bom ou ruim, melhor que seja assim. Antes não se falava disto e as receitas entravam e saiam desfilando pelas avenidas, sem questionamentos. Depois de 2001 passamos a ter audiência pública que hoje finge discutir e até propor bons usos para o orçamento. Nesta linha, a Ucam junto com o Cefet instituíram o InfoRoyalties, uma importante ferramenta para acompanhar estas receitas.

Melhor será no dia que este instrumento puder apurar, com o mesmo rigor, a utilização destes finitos recursos. Até lá, o leitor vai continuar a ler e ouvir falar sobre este uso e principalmente, sobre a impossibilidade, de mesmo, com um eventual bom uso deles, se conseguir projetar a sua substituição no futuro.

A preocupação, em buscar o bom uso temendo o cenário previsto acima, fica ampliada com a sensação, quase paranóica, de que cresce a cada dia, os esforços e as pressões que visam aumentar as fatias, sobre este maravilhoso bolo que são, as receitas dos royalties.

Tenho dito e aqui repito, que a ótima – não basta a boa - utilização destes recursos é a única fórmula de mantê-la na proporção atual. A divulgação feita pelo IBGE que Campos, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras e Carapebus estão entre os maiores PIBs (Produto Interno Bruto) total ou per capita, entre as mais de 5 mil cidades brasileiras, me faz compreender, que de forma voluntária ou não, estamos sendo empurrados para mudanças na forma atual de distribuição destes recursos.

Os questionamentos que podem ser feitos sobre a metodologia que o IBGE tem utilizado, para o estudo que agora indicou Campos, como o sexto melhor PIB do país, não invalidam as indagações sobre a má utilização dos royalties. Com questionamentos semelhantes, no ano passado, o professor Rodrigo Serra já havia ironizado a troca da interpretação da sigla, PIB, de Produto Interno Bruto para Produto Ilusório Bruto que peguei emprestado para título deste artigo.

Consumir um terço das receitas em pessoal, outro tanto com o custeio da pesada máquina pública municipal deixando tão somente, ao terço restante, os investimentos que acabam sendo diminuídos em obras que depois de feitas, são refeitas e em prioridades, muitas vezes equivocadas é oferecer aos adversários, que a cada dia crescem seus olhos sobre nossos royalties, a possibilidade de ampliação dos espaços, para que novas legislações sobre esta distribuição sejam aprovadas.

Sou admirador da qualidade do trabalho do IBGE, especialmente os censos, mas vejo que o órgão presta um desserviço (repito: voluntário ou involuntário) quando atribui como nossa, a riqueza do petróleo, que sequer fisicamente, passa por aqui. Êpa me esqueci, de que este argumento, também não ajuda, porque ao usá-lo, acabo por reforçar a tese de que os royalties, não nos são devidos, já que a plataforma continental é da união e não, de nenhum município.

Melhor que blá-blá-blá é tratarmos de usar bem estes recursos, invertendo a maioria das prioridades atuais, reduzir a máquina e atacar com investimentos que se reproduzam no futuro como os que são feitos em infra-estrutura e diretamente sobre o nosso povo, antes que o ilusório deixe de ser nosso PIB e passe a ser a verba que um dia tivemos. Guarde este artigo e ria de mim no futuro!

Publicado na Folha da Manhã em 15 de dezembro de 2006.

09 dezembro 2006

Pesquisa como instrumento de mudanças

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes@fmanha.com.br

Tenho insistido com a tese de que, o simples fato, de possuirmos um parque de instituições e vagas no ensino superior, não torna nosso município, obrigatoriamente, dotado da poderosa ferramenta do conhecimento. Fala-se e repete-se aos quatro cantos que o conhecimento, é o instrumento mais poderoso para transformar a economia de cidades, regiões, estados e até de países. Neste aspecto, há que se separar o que é saber, do que é conhecimento novo, além de estudo e graduação da pós-graduação e da pesquisa organizada e sistematizada.

Neste aspecto, julgo que de dois ou três anos para cá, está havendo uma verdadeira revolução por conta da produção de diferentes grupos de pesquisas espalhados nas instituições e, em alguns casos até melhor: entre instituições. Há trabalhos em diferentes campos do saber que têm elaborado diagnósticos profundos, tanto do passado, quanto contemporâneos, sobre nosso território (seja ele, o município ou, a região) e nosso povo, analisando fragilidades e potencialidades nos aspectos econômicos, de infra-estrutura e sociais.

Há que se lamentar apenas à pequena amplitude de repercussão destes estudos. Não me refiro apenas à divulgação ao público de uma maneira geral, mas também entre as próprias instituições e também pesquisadores. Nesta hora, mais uma vez sinto a falta que faz a existência de um organismo público local ou regional que pudesse ser o articulador, fomentador e divulgador dos grupos de pesquisas, dos seus conteúdos, assim como, de seus resultados.

Vejo que estamos perdendo, ou, aproveitando muito pouco, as informações, diagnósticos e proposições que poderiam nos ajudar a entender a nossa realidade, assim como os cenários futuros.

Nesta linha aproveito para destacar uma delas: a pesquisa da economista e mestra da Ucam-Campos, Denise Cunha Tavares Terra, cujo resumo foi objeto de um belo artigo no Boletim (online) número 13, Royalties, Petróleo e& Região. O estudo que é tema de sua tese de doutorado, está sendo desenvolvido, no curso de Geografia da UFRJ e se refere, à utilização dos recursos dos royalties do petróleo, hoje equivalentes a 72% de todo o orçamento, no período compreendido entre 1993 e 2004 e seu significado, na redução das desigualdades socioespaciais em nosso município.

A sua pesquisa faz uma análise detalhada dos investimentos em obras, dos últimos três períodos de governos municipais, nos mandatos de Sérgio Mendes (1993-1996) Garotinho-Arnaldo (1997/2000) e novamente Arnaldo Vianna entre 2001 e 2004.

A pesquisadora identificou que “a abundância de recursos extras, não contribuiu até aqui, para a melhoria no quadro das desigualdades socioespaciais do município, ao contrário, aumentou, e que a riqueza do petróleo não tornou o poder público mais solidário com a sua população”.

Muitas outras leituras são possíveis de serem tiradas, por gestores públicos, privados e ainda por outros pesquisadores sobre estes e outros problemas contemporâneos que temos vivido. O debate e a análise que pode e deveria ser feita, por estes diferentes segmentos, dará não só frutos que apontem para a solução dos mesmos, como também a absorção e o aprofundamento de conhecimentos, que outros municípios, dificilmente terão pela inexistência da base de pesquisa que aqui possuímos. Devemos saber aproveitar melhor este potencial. Bater palmas apenas por vagas no ensino superior é desconhecer o potencial que a pesquisa pode nos trazer de retorno.

Publicado na Folha da Manhã em 8 de dezembro de 2006.

02 dezembro 2006

O jardineiro fiel

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Não se trata do personagem daquele belo filme. O nosso jardineiro não exercia o ofício apenas nas horas vagas. Era profissional. Profissional, sem perder a ternura pelas plantas com quem diziam que conversava. Imagino que Deus faz festa quando chega no Céu um jardineiro. Deve ser por isso, que sempre chove nestes dias, como ocorreu ontem, quando levamos em sua partida, as flores que o Sr. Benedito dos Santos nos dava diariamente. Deve ter ido florir outros jardins.

Conheci Seu Benedito mais de perto quando estive na direção do Cefet. Ao chegar de manhã, eu de longe apreciava a sua devotação ao trabalho. Era o tipo de pessoa que não precisava de chefia. Ele sabia qual era o seu trabalho e sempre fazia muito mais do que se podia imaginar, até mesmo, de um zeloso e dedicado trabalhador.

Era fácil identificar que vibrava com o que fazia. Por falar em vibração ele me garantia que as plantas vibravam com o “clima” e o astral do ambiente onde eram plantadas. No pequeno jardim, ao lado do gabinete, certa vez, ao acompanhar o seu trabalho lhe falei da minha admiração por este carinho e dedicação. Seu Benedito ouviu, mas era daquele tipo especial de pessoa que fazia o que fazia, por prazer, deixava perceptível ao interlocutor que não precisava e nem buscava os elogios.

Quando os recebia, rapidamente já estava falando do trabalho da gente e não do dele. Num destes nossos rápidos encontros, ele disse-me que plantara uns pés de espada de São Jorge neste pequeno jardim ao lado do gabinete. Disse que para espantar as vibrações negativas que ele sentia, de vez em quando sair daquele ambiente. Não falei, mas senti e agora confesso, que assim me senti protegido. Era impossível sentir bajulação em ato, cuja sinceridade se evidenciava na forma daquele simples e humilde homem, se pronunciar. Provavelmente, o método fosse herança do jeito de se relacionar com aqueles seres, com os quais lidava diariamente.

Nosso último bate-papo ocorreu poucos dias antes do seu enfarte. Ele retirava as plantas de um canteiro que seria substituído por uma nova construção. Eu lamentava pela retirada daquelas flores e das belas folhagens. Ele não se importava. Disse que a vida era assim mesmo e que não havia problemas: “estou retirando-as e vou replantá-la nos fundos do ginásio de esportes, para que no final das obras, ela volte bonita para cá”.
Tenho certeza que ninguém ordenou e nem lhe comunicou sobre as novas obras e sobre o serviço a ser executado. Como sempre, ele se antecedia aos pedidos. Enxergava longe apesar da idade já avançada. Costumava indagar-me sobre a necessidade de insistir na empreitada da política.

Recordo-me de que algumas vezes, ao debater com nossa equipe gerencial e lamentar por alguns problemas costumeiros da gestão pública e buscar meios de estimular o trabalho dos nossos servidores, eu ter afirmado, que o meu sonho era que fossemos todos, um grupo de Beneditos.

Por isso, minha homenagem, a este homem que foi tão bem dito no nome quanto na sua conduta. Mais do que uma instituição bonita e de plantas bem cuidadas, ele trazia como todo bom e fiel jardineiro a aura do homem que ajudava a florir nossa conturbada existência.

Tenho a certeza de que aonde chegou foi recebido em festa e de que colherá aquilo que plantou, com prazer e alegria entre nós. Acho que Ele além de abraçá-lo pessoalmente, lhe proporá a troca do nome de Benedito para Benvindo! Que assim seja!

Publicado na Folha da Manhã de 1 de dezembro de 2006.