02 dezembro 2006

O jardineiro fiel

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Não se trata do personagem daquele belo filme. O nosso jardineiro não exercia o ofício apenas nas horas vagas. Era profissional. Profissional, sem perder a ternura pelas plantas com quem diziam que conversava. Imagino que Deus faz festa quando chega no Céu um jardineiro. Deve ser por isso, que sempre chove nestes dias, como ocorreu ontem, quando levamos em sua partida, as flores que o Sr. Benedito dos Santos nos dava diariamente. Deve ter ido florir outros jardins.

Conheci Seu Benedito mais de perto quando estive na direção do Cefet. Ao chegar de manhã, eu de longe apreciava a sua devotação ao trabalho. Era o tipo de pessoa que não precisava de chefia. Ele sabia qual era o seu trabalho e sempre fazia muito mais do que se podia imaginar, até mesmo, de um zeloso e dedicado trabalhador.

Era fácil identificar que vibrava com o que fazia. Por falar em vibração ele me garantia que as plantas vibravam com o “clima” e o astral do ambiente onde eram plantadas. No pequeno jardim, ao lado do gabinete, certa vez, ao acompanhar o seu trabalho lhe falei da minha admiração por este carinho e dedicação. Seu Benedito ouviu, mas era daquele tipo especial de pessoa que fazia o que fazia, por prazer, deixava perceptível ao interlocutor que não precisava e nem buscava os elogios.

Quando os recebia, rapidamente já estava falando do trabalho da gente e não do dele. Num destes nossos rápidos encontros, ele disse-me que plantara uns pés de espada de São Jorge neste pequeno jardim ao lado do gabinete. Disse que para espantar as vibrações negativas que ele sentia, de vez em quando sair daquele ambiente. Não falei, mas senti e agora confesso, que assim me senti protegido. Era impossível sentir bajulação em ato, cuja sinceridade se evidenciava na forma daquele simples e humilde homem, se pronunciar. Provavelmente, o método fosse herança do jeito de se relacionar com aqueles seres, com os quais lidava diariamente.

Nosso último bate-papo ocorreu poucos dias antes do seu enfarte. Ele retirava as plantas de um canteiro que seria substituído por uma nova construção. Eu lamentava pela retirada daquelas flores e das belas folhagens. Ele não se importava. Disse que a vida era assim mesmo e que não havia problemas: “estou retirando-as e vou replantá-la nos fundos do ginásio de esportes, para que no final das obras, ela volte bonita para cá”.
Tenho certeza que ninguém ordenou e nem lhe comunicou sobre as novas obras e sobre o serviço a ser executado. Como sempre, ele se antecedia aos pedidos. Enxergava longe apesar da idade já avançada. Costumava indagar-me sobre a necessidade de insistir na empreitada da política.

Recordo-me de que algumas vezes, ao debater com nossa equipe gerencial e lamentar por alguns problemas costumeiros da gestão pública e buscar meios de estimular o trabalho dos nossos servidores, eu ter afirmado, que o meu sonho era que fossemos todos, um grupo de Beneditos.

Por isso, minha homenagem, a este homem que foi tão bem dito no nome quanto na sua conduta. Mais do que uma instituição bonita e de plantas bem cuidadas, ele trazia como todo bom e fiel jardineiro a aura do homem que ajudava a florir nossa conturbada existência.

Tenho a certeza de que aonde chegou foi recebido em festa e de que colherá aquilo que plantou, com prazer e alegria entre nós. Acho que Ele além de abraçá-lo pessoalmente, lhe proporá a troca do nome de Benedito para Benvindo! Que assim seja!

Publicado na Folha da Manhã de 1 de dezembro de 2006.