24 novembro 2006

Paixão da cor do céu

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes@fmanha.com.br

Poderia hoje falar dos R$ 10 milhões que o Itaú está repassando à PMCG pela manutenção das contas-salário do seus funcionários, enquanto Niterói com folha de pagamento equivalente à metade da nossa, estipulou em licitação, um valor mínimo de R$ 16 milhões, por este direito.

Poderia falar novamente do Plano Diretor. Talvez do Parque Ecológico da Cidade. Expor a nova carta do Coronel Ponciano, mas, vou voltar ao Goytacaz. Meus amigos têm dito, que ultimamente tenho sido quase monotemático.

Porém, não poderia, deixar passar a oportunidade, para de forma antecipada, afiançar aos leitores que a sina, a qual referi-me em outro artigo, amanhã será desfeita, com o Goytacaz obtendo o seu passaporte, para a primeira divisão do futebol estadual. O time é um pouco melhor do que o dos últimos anos, mas a garra, na maioria dos jogos, é imensamente maior. Pode-se até falar da dúvida do biscoito: será a garra maior do time que tem empolgado a torcida ou será a torcida que com a sua habitual empolgação deu, mais garra ao time que honra este clube, quase centenário?

Estou convicto de que não há uma única explicação para a paixão e pelo tamanho da torcida alvi-anil. Há vários fatores que somados levam, até aos torcedores adversários admitirem a raridade do carinho de uma torcida para com o seu time. A raça foi herdada dos índios que lhe emprestaram o nome junto de outros atributos, como a coragem e a fama de excelentes corredores e inteligentes articuladores. Se já não bastasse, Goytacaz, depois dos índios e ainda antes do time, que depois virou clube foi ainda, nome de um dos primeiros jornais impressos na cidade, lá pelos idos de 1831.

Algumas pessoas que não me conheciam mais profundamente têm indagado, o motivo desta motivação pelo clube da rua do Gás, sem saber dos antecedentes. Em 1967, ainda com oito anos de idade, pela primeira vez, carregado pelas mãos do meu querido pai Joemio, assisti a um dos jogos mais importantes da vida do Goytacaz, que na ocasião disputava a Taça Brasil, pelo direito conquistado na condição de campeão do estado do Rio de Janeiro, antes da fusão.

Naquela quarta-feira à noite, dia 13 de setembro de 1967, o Goytacaz jogou contra o Atlético Mineiro. Inebriado com a empolgação da torcida tive o pedido atendido, de assistir ao jogo, da social do clube. A subida naquela escada, que se assemelha ao acesso, por túnel, ao gramado de um grande estádio fixou-se na minha alma mexendo de forma definitiva, com o imaginário do garoto que assim, se tornava mais um apaixonado torcedor alvi-anil.

O tempo passou, com ela vieram as lutas, conquistas e derrotas, tal qual o futebol do clube de coração. Porém, o tempo me fez reencontrar junto com tantos outros torcedores, o clube de coração, pelo qual gostava de me identificar como torcedor, seja no trabalho em Minas, no Rio ou mesmo nas andanças pelos ministérios em Brasília quando dirigente do Cefet.

Quem nunca encheu a boca para dizer, que torce pelo time, que tem o nome dos índios que nos antecederam? O tempo passou, mas a exemplo das paixões mais arrebatadoras, ela um dia se reapresenta, como se novidade fosse. Melhor, porque revigorada pela presença de torcedores mais novos e de crianças que ajudam a explicar, o crescimento permanente da torcida, que em meio às adversidades, nunca perdeu as esperanças, de ver retomado, o caminho da vida, que como a camisa do time é azul, apesar das nuvens. Amanhã seremos uma única torcida: Dá-lhe Goyta!

Publicado na Folha da Manhã de 24 de novembro de 2006.