10 abril 2006

Quem cara pálida?

Roberto Moraes Pessanha
Professor e engenheiro

A Folha da Manhã de quarta-feira trouxe matéria do jornalista Alexandre Bastos sobre as atividades da Câmara Municipal. Nela, o vereador Edson Batista faz críticas ao que chamou de inércia da sociedade em não reagir à decisão sobre a localização do Complexo Petroquímico em Itaboraí. Textualmente diz: “o estado fez o possível para trazer a refinaria para Campos, mas a sociedade e o poder público ficaram anestesiados. Não foram capazes de articular uma luta para trazer os investimentos e depois da notícia se renderam. Aceitaram de cócoras o resultado”.

Particularmente fui e continuo sendo contrário à decisão a favor de Itaboraí tomada pela Petrobras e pelo governo federal. Porém, não quero e não posso assumir qualquer responsabilidade em nome da sociedade pelo fracasso, como também não o faria, em nome de um eventual sucesso se a decisão fosse a favor de Campos. Quem costuma agir assim é o governo estadual, como foi no caso da indústria naval quando da decisão da Petrobras em construir no país novas plataformas.

No processo de definição da localização do empreendimento petroquímico o governo do estado teve uma intervenção desastrosa. Teria sido melhor manter a neutralidade que o secretário Victer tinha anunciado no início do processo, quando aqui esteve no Isecensa mostrando a oportunidade do pólo e a estratégia do governo estadual. A partir da defesa da região seguida de novas agressões ao presidente o processo desandou. Não falo de críticas, isso fez o Jarbas Vasconcelos, governador de Pernambuco que mesmo divergindo e se posicionando contra o governo federal garantiu por lá uma refinaria.

Em nome de um projeto pessoal, o grupo político que assumiu o estado desde 1999 atira em qualquer projeto a favor do estado visando impedir sua implantação, para na condição de vítima, se apresentar como solução para o país. Fez isso quando saiu de Campos se propondo a ter o controle do estado para ajudar sua região. A bem da verdade, os resultados todos conhecem.

Seria injusto de minha parte, atribuir unicamente ao governo estadual o resultado negativo ao pleito regional pela localização do pólo petroquímico, da mesma forma que não se pode desconsiderar a politização que ganhou a questão depois da intervenção do casal.

O debate sobre esta e outras questões políticas são saudáveis, mas, o nobre edil vai me desculpar, ele tem a representatividade do voto que lhe outorgou o mandato para a representação política no legislativo municipal, mas isso não lhe dá o direito em se arvorar a arbitrar a forma, o tempo e o conteúdo sob a qual a sociedade tem que reagir. O vereador sabe muito bem qual é o grupo político que segue cegamente seu caudilho. Não diria que o vereador faz isso de cócoras, não pelo respeito à sua posição política, mas pelas dificuldades de flexibilidade física que se esbanjam na flexibilidade ideológica.
PS.: Publicado na Folha da Manhã de 7 de abril de 2006.