31 março 2006

Dois fatos, uma necessidade

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: rmoraes@cefetcampos.br
31/03/2006

A eleição no domingo e o anúncio da localização da sede do pólo petroquímico na terça. Eles se relacionam pouco entre si, mas, trarão conseqüências por longo tempo. Nenhuma das duas pode ser interpretada como salvação ou o fim do mundo.

Se por um lado a eleição pode trazer esperança de mudanças e melhorias com a troca da interinidade pela mandato outorgado pelo voto, a negação da escolha de Campos para sediar o pólo petroquímico também não pode ser vista com a única alternativa de desenvolvimento a que teríamos condições de trilhar.

Questiono os critérios sobre os quais a escolha se balizou. A decisão analisada sob o ponto de vista do interesse público e estratégico do estado têm desvantagens na medida que estimulará ainda mais a concentração econômica ao redor da capital com conseqüente estímulo à migração.

São frágeis as argumentações de preponderância da avaliação de critérios técnicos como a da proximidade com a sede da estatal e de disponibilidade de mão-de-obra. Esta última fica sem sustentação diante da outra informação de que a empresa irá criar na área escolhida um centro de especialização e formação de mão-de-obra.

Itaboraí tem problemas ambientais não equivalentes aos de Itaguaí, mas também significativos. A região ao entorno da área reservada de 20 milhões de metros quadrados é uma extensão do manguezal da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim onde há uma recém-criada estação ecológica que muitos consideram o principal pulmão da Baía da Guanabara.

Volto ao primeiro ponto para falar das oportunidades sobre a eleição do prefeito. Desejo que ele de posse do mandato tenha condições de enxergar os caminhos que leve nossa cidade a novas e importantes conquistas. Que em nome do amor pela cidade saiba administrar os conflitos e os interesses antagônicos presentes em nossa sociedade, desigual, plural e partidariamente dividida.

Que a redução destas desigualdades sirva como norte e que afaste dos “outros” os cálices da tentação das oportunidades que o poder sempre oferece. Que enquanto o mais novo amante da cidade possa prenhá-la de bons e importantes projetos retirando dos espoliadores as possibilidades de que necessitam para sugar os recursos e as oportunidades que o município hoje ostenta.

O pólo petroquímico traria a meu ver, mais vantagens que problemas, mas já que se transformou em história, desejo que saibamos usar este momento para de forma racional e serena traçar um planejamento de longo prazo que tenha o governo federal, do qual passamos a ser credores pela recente exclusão, para parcerias de grandes e importantes iniciativas de desenvolvimento com justiça social.

Publicado na Folha da Manhã de 31 de março de 2006