Fome de poder
Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br
Quando o assunto é recorrente não adianta fugir dele. Ele está no cafezinho, no barbeiro, no ônibus, na sala de aula, etc. Talvez este fosse o intuito do grevista. Porém, ele sabe mais do que muito de nós, que uma coisa é ser bem e outra mal falado. É papo furado o slogan que diz: falem mal, mas falem de mim. Garotinho perde com esta iniciativa muito mais que os quilos excedentes de seu corpo. Com ela vai pelos ares mais do que uma sonhada nova candidatura a presidente, mas a possibilidade de ser visto como alguém equilibrado para enfrentar os graves problemas do país.
A greve de fome é o tipo da decisão de último recurso e mais comum de ser utilizada por prisioneiros, sindicalistas ou líderes de movimento social e ainda assim, precisa estar muito bem situado na opinião pública e com credibilidade para que possa criar comoção que leve seus adversários ao atendimento das reivindicações. Até um pequeno menino sabe que a decisão de fazer uma greve de fome, só deixa como brecha para se sair bem dela, o atendimento aos pleitos. O cenário não aponta perspectivas para este caminho. Vislumbrar algo nesta linha beira a um perigo maior do que a demagogia, a do messianismo.
Uma análise simplória que tentasse identificar os motivos e as estratégias de tal atitude vai levar à conclusão de que o ex-governador ao tomar tal medida, estava diante de uma grave situação com o avanço de novos fatos e questionamentos de desvio de verbas e caixa dois. Com a greve o que o ex-governador mirou não foi só o velho truque de se fazer de vítima, mas também a tentativa de mudar o rumo das matérias jornalísticas.
O ex-governador tem ainda como horizonte as próximas pesquisas eleitorais que regularmente são feitas na primeira semana de cada mês. Mirou ainda a reunião nacional do PMDB marcada para o dia treze de maio quando os adversários da candidatura própria pretendem detoná-lo. O ex-governador imagina que seus adversários não ficarão bem na fita se tomarem esta decisão contra um partidário que já estaria duas semanas em jejum.
A população não costuma tratar bem os políticos que mostram apetite descomunal para o poder. As exceções dos persistentes que, depois de várias tentativas, chegaram ao poder máximo dos seus países indicam que, antes de qualquer coisa, eles tiveram que se mostrar mais humildes e servis ao seu povo do que ao seu anseio pessoal.
O possível agravamento do seu estado de saúde até poderá trazer a compaixão de uma parte maior do povo, mas jamais lhe devolverá a confiança que alguns depositavam em lhe entregar o comando maior do nosso país.
Por conta disso, vejo que Garotinho ao mirar em desejos que nem sempre são possíveis na vida e na trajetória até de um excepcional político, pode, como numa assombração, transformar o atual caso numa miragem que seria o fim prematuro da sua carreira política. Água para o garoto!
Publicado na Folha da Manhã em 5 de maio de 2006
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br
Quando o assunto é recorrente não adianta fugir dele. Ele está no cafezinho, no barbeiro, no ônibus, na sala de aula, etc. Talvez este fosse o intuito do grevista. Porém, ele sabe mais do que muito de nós, que uma coisa é ser bem e outra mal falado. É papo furado o slogan que diz: falem mal, mas falem de mim. Garotinho perde com esta iniciativa muito mais que os quilos excedentes de seu corpo. Com ela vai pelos ares mais do que uma sonhada nova candidatura a presidente, mas a possibilidade de ser visto como alguém equilibrado para enfrentar os graves problemas do país.
A greve de fome é o tipo da decisão de último recurso e mais comum de ser utilizada por prisioneiros, sindicalistas ou líderes de movimento social e ainda assim, precisa estar muito bem situado na opinião pública e com credibilidade para que possa criar comoção que leve seus adversários ao atendimento das reivindicações. Até um pequeno menino sabe que a decisão de fazer uma greve de fome, só deixa como brecha para se sair bem dela, o atendimento aos pleitos. O cenário não aponta perspectivas para este caminho. Vislumbrar algo nesta linha beira a um perigo maior do que a demagogia, a do messianismo.
Uma análise simplória que tentasse identificar os motivos e as estratégias de tal atitude vai levar à conclusão de que o ex-governador ao tomar tal medida, estava diante de uma grave situação com o avanço de novos fatos e questionamentos de desvio de verbas e caixa dois. Com a greve o que o ex-governador mirou não foi só o velho truque de se fazer de vítima, mas também a tentativa de mudar o rumo das matérias jornalísticas.
O ex-governador tem ainda como horizonte as próximas pesquisas eleitorais que regularmente são feitas na primeira semana de cada mês. Mirou ainda a reunião nacional do PMDB marcada para o dia treze de maio quando os adversários da candidatura própria pretendem detoná-lo. O ex-governador imagina que seus adversários não ficarão bem na fita se tomarem esta decisão contra um partidário que já estaria duas semanas em jejum.
A população não costuma tratar bem os políticos que mostram apetite descomunal para o poder. As exceções dos persistentes que, depois de várias tentativas, chegaram ao poder máximo dos seus países indicam que, antes de qualquer coisa, eles tiveram que se mostrar mais humildes e servis ao seu povo do que ao seu anseio pessoal.
O possível agravamento do seu estado de saúde até poderá trazer a compaixão de uma parte maior do povo, mas jamais lhe devolverá a confiança que alguns depositavam em lhe entregar o comando maior do nosso país.
Por conta disso, vejo que Garotinho ao mirar em desejos que nem sempre são possíveis na vida e na trajetória até de um excepcional político, pode, como numa assombração, transformar o atual caso numa miragem que seria o fim prematuro da sua carreira política. Água para o garoto!
Publicado na Folha da Manhã em 5 de maio de 2006
1 Comments:
Poder é o objetivo de muitos mas, olha aí o meu mas !
Querer ser Deus é brincadeira de criança, podia começar plagiando Ícaro e tentar ser um pássaro, terias alguma sugestão de onde saltar ?
Ernesto Carcará
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