16 fevereiro 2007

Angela

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:Moraes.rol@terra.com.br

Conheci Angela através de Cristina, sua irmã e minha colega de trabalho no Cefet. Elas eram parecidas. Sempre estavam agitadas como que, a esperar ou buscar uma novidade. Angela agia assim por profissão, Cristina por fé. Pensando nestas duas simpatias com quem tive a sorte de conviver em amizade acabo descobrindo, que é exatamente a profissão e a fé que unia ainda mais, estas duas criaturas que nesta vida vieram se ajudando.

Conheci Angela como jornalista, antes ainda de ser também colunista. Dona de um texto objetivo sabia separar a verdadeira notícia, dos detalhes. Assim se transformou na excelente colunista de faro apurado. Angela era amiga dos amigos e profissional com os demais.

Vibrava com as boas notícias. Recordo-me do dia que lhe falei em primeira mão, da oficialização pelo Ministério da Educação, da transformação da então, Escola Técnica Federal, em Cefet. Sua vibração misturava a novidade da notícia, com a satisfação de ver algo de Campos crescendo e fazendo sucesso. Reclamava quando a gente demorava a ligar para conversar. Aprendi com ela a me comunicar, repassar e receber informações.

Tinha uma outra especificidade: fazia coluna social moderna, indo a poucos eventos, especialmente, os noturnos. Dizia que depois das dez horas, ela virava abóbora e já estava dormindo. Substituía os contatos destes eventos com uma capacidade sem igual, em usar o telefone.

Angela era eclética nas suas relações profissionais e pessoais indo do rico, passando pelo remediado até ao pobre, sem perder a autenticidade e sem ser superficial. Era profissional no jornalismo sem esconder as suas preferências no campo das idéias e até da política, algo quase impossível para a categoria dos colunistas, que é hoje, a coqueluche dos jornais. Reagia a outras mídias, gostava da palavra impressa. Gostava de um bom texto.

De vez em quando comentava sobre os meus. Eu sempre considerei coisa de amiga, até quando ela me ligou, para dizer, no dia seguinte a da final desta última Copa do Mundo, que tinha chegado à redação da Folha da Manhã disposta, a desabonar o Zidane pela sua cabeçada, mas que havia mudado completamente sua opinião, depois de ler um artigo extemporâneo meu, sobre o assunto. Fez questão de dizer isso sabendo, que esta é a glória de quem escreve alguma coisa: refazer opiniões, coisa que ela fazia diariamente na sua coluna, ao propor o repensar de questões sob uma ótica diferente.

Porém, mais que tudo isso, Angela era forte. Assimilou com coragem a partida da irmã e depois do sobrinho, na consciência, de que nossa trajetória por aqui tem caminhos traçados em planos difíceis de serem entendidos, mas fáceis de compreensão, pelas pessoas de boa e corajosa fé.

Angela, apesar de achar, como eu, que o mundo vive meio de contra-cabeça acreditava sempre. Deve estar agora ouvindo sua irmã Cristina, junto do Guilherme, contar as novidades do que tem feito. Não duvido muito que tenha pedido papel e caneta e dentro em breve nos mande as notícias.
Como apreciadora das músicas deve estar agora cantarolando “Nada será como antes” do Chico Buarque: Que notícias me dão dos amigos / Que notícias me dão de você / Sei que nada será como está / Amanhã ou depois de amanhã... Ou ainda, do mais moderno do Jota Quest, “Qualquer dia destes”: Quando esse dia chegar, enfim / Cê vai lembrar da gente / E eu vou tá bem longe daqui / Mas até lá / Eu vou ficar aqui, yeah!... Fique com Deus Angela, e, até qualquer hora!

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 16 de Fevereiro de 2007.