18 janeiro 2007

Ponte Gal. Dutra: crônica de uma queda anunciada

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Há uma máxima em prevenção e planejamento que diz: acidentes não acontecem, eles são causados! Hoje já se sabe, que ela vale, até mesmo para os acidentes chamados de naturais.

Desde o ano 2000 participo de um movimento que questiona as limitações deste trecho da BR-101. As condições desta rodovia vêm, mesmo antes disto, deteriorando-se muito rapidamente.

Por diversas vezes chamamos a atenção para a necessidade de se reformar este traçado projetado, para um fluxo de veículos, quase dez vezes menor que a demanda atual, sem resultados.

A necessidade de ampliar a capacidade da BR-101 vai da construção de terceiras faixas, mudanças de traçado, reformas das pontes até à duplicação de toda a rodovia que poderiam estar evitando transtornos como o que agora estamos vivemos.

O movimento da sociedade civil, desde lá vem mostrando o absurdo número de vítimas desta estrada assassina e também, os prejuízos econômicos, que uma estrada em péssimas condições estavam gerando. As advertências com manifestações técnicas, pacíficas e mesmo outras mais ousadas se mostraram insuficientes para produzir ações ou reações.

Nos seminários e reuniões com o Ministério Público, TCU, Ministérios dos Transportes, Dnit, etc. o movimento alertou cabal e claramente sobre os riscos de interrupção do tráfego entre o nordeste e o sudeste pela BR-101 caso, se mantivesse as condições da ponte General Dutra.

Pois bem, a falta de sensibilidade das autoridades não foi acompanhada pela natureza. Lamentável que o crescimento vertiginoso, do nível das águas, de seis metros para quase doze metros, com vazão e velocidade furiosas, tenha produzido, o que não pretendíamos, mas imaginávamos ser possível. Só não brado o jargão, de que não foi por falta de aviso, em respeito aos que sofrem, na pele ainda mais violentamente, as conseqüências diretas da enchente.

Pena, que os que mais vão sofrer com esta situação, sejam nossos conterrâneos, que hoje moram, quase que meio a meio, entre uma e outra margem do Paraíba do Sul. Dizem que em política, não se deve abrir mão de cacifes, que as circunstâncias, vez por outra, nos concede diante de determinadas negociações. Sendo assim, está na hora de se aproveitar a ocasião para, definitivamente termos o trânsito da BR-101 fora da nossa área urbana.

A enchente de 1966 produziu as intervenções urbanas de proteção contra enchentes do Cais da Lapa e do dique, ao longo do rio Paraíba. Agora temos que sair desta catástrofe, com a execução deste projeto de mais de trinta anos, que prevê na BR-101, a ligação por trás do morro do Itaóca com Santa Cruz, cruza o rio Paraíba do Sul com nova ponte e sai próximo ao distrito de Travessão.

Os problemas gerados pela queda da ponte atingem à nossa população, mas atinge também e fortemente, outros setores da economia que têm interesse igual ou até maior, nesta solução. É preciso, portanto, habilidade para articular a solução que diminui, pelo menos, o impacto e o sofrimento da população. A suspensão temporária da concessão da BR-101, anunciada agora pelo governo federal abre novamente, brechas para intervenção e parcerias que o novo governo estadual pode e deve investir. Nesta linha, não deve haver pulverização e confusão de proposições de construções de outras pontes, além desta, que é a que agora interessa: o novo contorno de Campos.

Publicado na Folha da Manhã de 12 de janeiro de 2007.