21 julho 2006

Sangue lá & suga aqui!

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:moraes@fmanha.com.br

Já deve ser a mania de escrever em blog. Ao invés de um trago dois nem tão distintos assuntos:

Mosquito
Pode parecer uma ironia falar de mosquito em época de sanguessuga, mas, quando o sugado é você diretamente, não há como não coçar e, como para comer e coçar basta começar... lá vamos nós... Reclamar da falta de saneamento é politicamente correto, até porque neste caso, você começa no mosquito e vai terminar no rato, aliás, falando deles, me pareceu brincadeira de bom gosto, a história que me contaram de alguém ter dito que era hora de botar os gatos para trabalharem!

Independente da necessidade de saneamento e voltando ao caso do mosquito, este, ao contrário do rato, tem sido mais democrático ao distribuir sua ação de Donana à Pecuária e de Guarus até à Pelinca. Eu queria entender a razão da atual manifestação. Na história mais recente do município talvez não haja precedentes. Há praticamente um mês eles infernizam nossas noites.

Durante o verão, nas praias, diz-se que é a falta de vento que permitem as farras sanguessugas. Por aqui, com vento, ou sem vento, com frio, ou sem frio, na pedra e no chão batido eles estão presentes com aquele zumbido pior do que de cobrador na porta de casa. Como não sou especialista, queria entender as razões de tamanha manifestação.

Na área mais central já disseram que as águas do Paraíba (juro que não há provocação na letra minúscula no “á” da água) que a municipalidade está empurrando no canal Campos-Macaé para a limpeza e renovação seria o fato gerador. Outros dizem se tratar, das conseqüências das cheias dos canais e da baixada havida em dezembro e janeiro passado. Um ou outro, ou, um e outro, fato é, que não é terrível ter que conviver com tão grande infestação.

Líbano - solidariedade e contradições
Há menos de um mês, no dia de um dos jogos do Brasil na Copa, passei no Kantão do Líbano para comprar uns quitutes e ir assistir ao jogo em casa. Encontrei Raimundo feliz. Questionei seu sumiço e obtive num tom alegre, a resposta de que tinha acabado de chegar da sua terra natal.

Indaguei sobre como andavam as coisas por lá. Outro sorriso largo como resposta, seguida da informação de que depois das guerras o quadro era outro, o povo feliz, o país arrumado, bonito, florido, as pessoas trabalhando e que o progresso, finalmente tinha podido se instalar. Fiquei alegre com a sua alegria e com as condições que acabara de deixar na sua terra natal.

Não consigo pensar noutra coisa quando vejo as notícias da reativação do conflito entre Israel e o Líbano. As imagens das bombas jogadas aleatoriamente no território libanês, o desespero das famílias que depois de muito tempo, assim como Raimundo, imaginavam viver um novo tempo e para lá voltavam em passeios, reencontros ou até retorno que imaginavam definitivos.

Solidariedade é sempre um sentimento difícil de ser transmitido nestes momentos. Porém, não há como também não ligar mais um fato a outro. Lembro agora daqueles que ganham, mesmo sem saber, com tal horror. Pois é, não tão coincidentemente, é este o caso dos royalties do petróleo que com a retomada da guerra vão engordar como nunca...

Publicado na Folha da Manhã de 21 de julho de 2006.