11 julho 2006

Zidane, o humano!

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes@fmanha.com.br

Desde ontem aquela cena do Zidane trouxe-me um sentimento diferente. Não sabia identificar do que se tratava. Ouvi diversos comentários sobre o fato, mas todos davam sempre uma versão, mais ou menos, parecida que no fim se traduzia na pergunta: como pode? Ou, o que faz um jogador brilhante no seu último jogo, nos últimos minutos da sua última Copa do Mundo fazer o que fez?

Esperei para ler os jornais de hoje, mas eles, mais ou menos, trouxeram as mesmas coisas: a condenação e a perplexidade. Pois então, minhas evidências se clarearam tal qual, a visão do horizonte num dia de sol após uma noite chuvosa: minha admiração por Zidane aumentou.

Calma, eu não estou aprovando sua agressão. Porém, vejo que com o seu ato impensado, Zidane prestou uma enorme colaboração ao futebol que andou nos caminhos da mediocridade neste campeonato com algumas raras exceções que inclui, de forma especial, a sua magnífica partida contra a nossa seleção.

Explico: a colaboração de Zidane foi a de lembrar que as celebridades são humanas e como tal, capazes de gestos e performances sensacionais e ao mesmo tempo, como o mais mortal dos humanos, medíocres e lamentáveis como sua cabeçada sobre o zagueiro italiano. Não me interessa saber o real motivo que tanto se especula sobre o seu gesto frio e aparentemente inconseqüente.

Com a sua atitude condenável pela violência gratuita, Zidane trouxe acompanhada do desespero com que tentou convencer o árbitro da sua inocência, a colaboração que obriga todo o planeta a lembrar que o futebol, por mais que tenha sido engolido pela mídia e pelo marketing, trata-se simplesmente, de uma competição entre humanos que trazem consigo virtudes e defeitos.

Mais cruel ainda é saber que o ex-craque receberá para o resto de sua vida, como pagamento desta sua inestimável colaboração, a lembrança deste seu último ato, como a marca de sua personalidade, o que para um ex-atleta é algo mais importante do que a recordação das suas heróicas jogadas de mestre do futebol.

Na sociedade midiática que vivemos, os símbolos e as imagens valem mais do que as intenções e as interpretações teóricas ou até metafísicas e desta forma, sua penitência será ainda mais expressiva e amarga.

Diante de tal aprendizado, não posso deixar de considerar como mesquinho, o sentimento dos irmãos brasileiros que, por acaso, ainda se deliciam com o fato pelo pueril sentimento da vingança trivial e burra como resposta à inigualável atuação do craque sobre nossa seleção.

Em nome do futebol e da sociedade, ao inverso, dos milhões, que desde ontem o crucificam, eu digo: obrigado Zidane por lembrar que o futebol, assim como a vida é jogada por humanos e não por celebridades!

Publicado na Folha da Manhã 11 de julho de 2006.