Será fácil culpar mais um Severino
Um nome conhecido na construção civil, um setor já distinguido pelos altos índices de acidentes. Noite de quinta para sexta-feira, por volta de uma e meia, muito vento e muita chuva, no final da nossa conhecida rua Sete, agora, avenida Alberto Lamego. Uma obra de construção como qualquer outra.
Severino Costa, 40 anos, um operador de gruas e guindastes percebendo as condições adversas teria se recusado a subir para operar a máquina. Já estava acostumado ao trabalho noturno na obra, porém, mesmo com o pouco de treinamento que teve, sabia que não era recomendável a operação naquelas circunstâncias.
Severino como a maioria dos seus companheiros, não estudou o suficiente para fazer contas que pudesse justificar aos seus superiores, a suspensão do trabalho, por considerar que os fortes ventos equivaleriam a um tanto significativo de peso que diminuiria o valor máximo permitido a ser içado e transportado pelo equipamento.
Severino não sabe, mas, a baixa escolaridade é um dos fatores que se atribui para que o setor seja o campeão em acidentes do trabalho no país. Apesar disso, Severino sempre soube que os riscos do setor são ampliados pelo fato de ser um trabalho executado, em ambiente externo sujeito a sol, chuvas, ventos e trovoadas.
Severino não sabia, mas, percebia que o fato das obras terem hoje, um rodízio de empresas terceirizadas que chegam e saem das obras, conforme concluem seus trabalhos, torna muitas vezes, o trabalho ainda mais arriscado, pela falta de conhecimento e comunicação entre as pessoas.
Severino, no meio da segunda hora da madrugada de sexta-feira, também sentiu a pressão que o prazo de conclusão de uma obra pública exerce, até sobre o bom senso das pessoas.
Severino, em meio a tudo isso, subiu ao alto da cabine do equipamento a mais de 20 metros de altura com medos e pressentimentos. Lembrou da mulher e dos filhos que deixou no Rio de Janeiro. O tremor que teve, Severino atribuiu ao frio. Começou a operar a grua até sentir o tremor na cabine e daí por diante Severino: “flutuou no ar como se fosse um príncipe e se acabou no chão feito um pacote bêbado”.
O engenheiro da obra disse aos jornais: “Vamos avaliar todas as hipóteses. Não descartamos também a última possibilidade, de ter ocorrido uma falha de Severino”. Severino sabia que ajudava a construir um espaço que chamam de Centro de Convenções, onde festas e manifestações artísticas acontecerão ao longo de décadas. Severino só não esperava encerrar ali, a arte do seu ofício e a festa que até então era a sua vida. Diante dos fatos e circunstâncias, mais uma vez, será fácil culpar um Severino. Como Chico Buarque, na música Construção, também lhe digo: “Deus lhe pague!”
Roberto Moraes Pessanha
Engenheiro de Segurança do Trabalho
e-mail: moraes@fmanha.com.br
PS.: Artigo publicado na Folha da Manhã do dia 25 de outubro de 2006.
Severino Costa, 40 anos, um operador de gruas e guindastes percebendo as condições adversas teria se recusado a subir para operar a máquina. Já estava acostumado ao trabalho noturno na obra, porém, mesmo com o pouco de treinamento que teve, sabia que não era recomendável a operação naquelas circunstâncias.
Severino como a maioria dos seus companheiros, não estudou o suficiente para fazer contas que pudesse justificar aos seus superiores, a suspensão do trabalho, por considerar que os fortes ventos equivaleriam a um tanto significativo de peso que diminuiria o valor máximo permitido a ser içado e transportado pelo equipamento.
Severino não sabe, mas, a baixa escolaridade é um dos fatores que se atribui para que o setor seja o campeão em acidentes do trabalho no país. Apesar disso, Severino sempre soube que os riscos do setor são ampliados pelo fato de ser um trabalho executado, em ambiente externo sujeito a sol, chuvas, ventos e trovoadas.
Severino não sabia, mas, percebia que o fato das obras terem hoje, um rodízio de empresas terceirizadas que chegam e saem das obras, conforme concluem seus trabalhos, torna muitas vezes, o trabalho ainda mais arriscado, pela falta de conhecimento e comunicação entre as pessoas.
Severino, no meio da segunda hora da madrugada de sexta-feira, também sentiu a pressão que o prazo de conclusão de uma obra pública exerce, até sobre o bom senso das pessoas.
Severino, em meio a tudo isso, subiu ao alto da cabine do equipamento a mais de 20 metros de altura com medos e pressentimentos. Lembrou da mulher e dos filhos que deixou no Rio de Janeiro. O tremor que teve, Severino atribuiu ao frio. Começou a operar a grua até sentir o tremor na cabine e daí por diante Severino: “flutuou no ar como se fosse um príncipe e se acabou no chão feito um pacote bêbado”.
O engenheiro da obra disse aos jornais: “Vamos avaliar todas as hipóteses. Não descartamos também a última possibilidade, de ter ocorrido uma falha de Severino”. Severino sabia que ajudava a construir um espaço que chamam de Centro de Convenções, onde festas e manifestações artísticas acontecerão ao longo de décadas. Severino só não esperava encerrar ali, a arte do seu ofício e a festa que até então era a sua vida. Diante dos fatos e circunstâncias, mais uma vez, será fácil culpar um Severino. Como Chico Buarque, na música Construção, também lhe digo: “Deus lhe pague!”
Roberto Moraes Pessanha
Engenheiro de Segurança do Trabalho
e-mail: moraes@fmanha.com.br
PS.: Artigo publicado na Folha da Manhã do dia 25 de outubro de 2006.
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