Carnaval, violência e estatísticas
Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br
O simples fato de tentar mostrar relação entre as três já pode ser coisa de Momo, mas vamos em frente. No Rio, o Cordão do Bola Preta foi despejado de sua sede e, ainda assim, saiu na semana passada e voltará a sair amanhã. Reclamou a ajuda do poder público para quitar dívida que evitaria a liquidação de sua sede, mas mesmo sem, não deixou seus adeptos na mão.
Pois bem, em Campos foi o inverso. Faltando apenas quatro dias para o Momo, a prefeitura repassou o dinheiro às entidades carnavalescas. Questiono as entidades que dependem exclusivamente destes recursos para se manterem. Porém, o caso aqui é mais que isso.
A prefeitura informou na terça-feira, em seu próprio site, que uma das agremiações, a escola de samba "Os Independentes" apesar de ter recebido a verba de R$ 53.946,00 teria optado - pelo visto com a concordância do poder público - por não desfilar e assim utilizar o valor recebido na compra de uma sede própria.
Algo deve estar errado, ou então, o carnaval já começou e eu não sabia. A ajuda é para o desfile, porque se imagina que só pudesse receber ajuda as entidades já instituídas, mas não e... “me dá um dinheiro aí! Não vai dar? Não vai dar não? Você vai ver a grande confusão...”
Eu avisei que havia ligação entre carnaval, violência e estatística. Pois bem, estatística há para todo gosto e interesse. Tem gente que se apropria do PIB (Produto Ilusório Bruto) considerando que toda a riqueza do petróleo circula por aqui e não apenas a dos royalties.
A mais nova estatística na área surge igual a dos torcedores que levam faixas escritas para serem filmadas pelas TVs nas arquibancadas: “Eu já sabia”. Divulgada na quarta, o “Mapa da violência nos municípios” mostrou que Campos entre as mais de cinco mil cidades brasileiras como o terceiro maior índice (proporcional à sua população) em óbitos no trânsito.
Especialistas dizem que são grandes as chances de Campos subir, neste negativo ranking, com os números de 2007. Samba do crioulo doido nas estatísticas e no carnaval não é novidade para ninguém, a não ser para aqueles que duvidaram da falta de elo entre os temas do título.
Só que as coisas vão além, pois carnaval e violência estão também no mau uso dos recursos públicos que nenhuma estatística consegue dar conta. Enfim, Paz e bom carnaval a todos e... me dá, me dá, me dá um dinheiro aí!
PS.: Publicado na Folha da Manhã em 01-02-08 sem o último parágrafo, eliminado por falta de espaço.
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br
O simples fato de tentar mostrar relação entre as três já pode ser coisa de Momo, mas vamos em frente. No Rio, o Cordão do Bola Preta foi despejado de sua sede e, ainda assim, saiu na semana passada e voltará a sair amanhã. Reclamou a ajuda do poder público para quitar dívida que evitaria a liquidação de sua sede, mas mesmo sem, não deixou seus adeptos na mão.
Pois bem, em Campos foi o inverso. Faltando apenas quatro dias para o Momo, a prefeitura repassou o dinheiro às entidades carnavalescas. Questiono as entidades que dependem exclusivamente destes recursos para se manterem. Porém, o caso aqui é mais que isso.
A prefeitura informou na terça-feira, em seu próprio site, que uma das agremiações, a escola de samba "Os Independentes" apesar de ter recebido a verba de R$ 53.946,00 teria optado - pelo visto com a concordância do poder público - por não desfilar e assim utilizar o valor recebido na compra de uma sede própria.
Algo deve estar errado, ou então, o carnaval já começou e eu não sabia. A ajuda é para o desfile, porque se imagina que só pudesse receber ajuda as entidades já instituídas, mas não e... “me dá um dinheiro aí! Não vai dar? Não vai dar não? Você vai ver a grande confusão...”
Eu avisei que havia ligação entre carnaval, violência e estatística. Pois bem, estatística há para todo gosto e interesse. Tem gente que se apropria do PIB (Produto Ilusório Bruto) considerando que toda a riqueza do petróleo circula por aqui e não apenas a dos royalties.
A mais nova estatística na área surge igual a dos torcedores que levam faixas escritas para serem filmadas pelas TVs nas arquibancadas: “Eu já sabia”. Divulgada na quarta, o “Mapa da violência nos municípios” mostrou que Campos entre as mais de cinco mil cidades brasileiras como o terceiro maior índice (proporcional à sua população) em óbitos no trânsito.
Especialistas dizem que são grandes as chances de Campos subir, neste negativo ranking, com os números de 2007. Samba do crioulo doido nas estatísticas e no carnaval não é novidade para ninguém, a não ser para aqueles que duvidaram da falta de elo entre os temas do título.
Só que as coisas vão além, pois carnaval e violência estão também no mau uso dos recursos públicos que nenhuma estatística consegue dar conta. Enfim, Paz e bom carnaval a todos e... me dá, me dá, me dá um dinheiro aí!
PS.: Publicado na Folha da Manhã em 01-02-08 sem o último parágrafo, eliminado por falta de espaço.
1 Comments:
O carnaval já foi uma bela manifestação popular. Ou seja, uma alegria que realmente partia do povo, que se divertia apenas se juntando aos amigos e com uma fantasia qualquer, para comemorar 4 dias de "libertação do trabalho e dos estudos". Entretanto, hoje, o que temos é uma festa em que muitos interesses políticos e econômicos são envolvidos e a alegria popular vem se transformando apenas em motivo de muita bebedeira e violência, acompanhada de uma sexualidade desenfreada...Tanto que se precisa de propagandas implorando ao povo que "se beber não dirija", "use a camisinha", "brinque na paz"...A verdadeira e espontânea alegria carnavalesca não precisaria de tanta preocupação! Se o povo tivesse realmente motivos para estar alegre - porque vive em uma cidade em que os impostos e royalties retornam para seu bem estar - não seria preciso se "comprar" essa falsa alegria por tanto:1,5 milhão! Com esse dinheiro gasto, muita gente estaria feliz de verdade se tivesse uma moradia decente, ou postos de saúde - com médicos! - funcionando perto de suas casas, por exemplo. Essa alegria verdadeiramente popular, então, sairia de graça!
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