04 agosto 2007

Por quê e para quê escrever?

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Ultimamente venho pensando muito sobre a arte de escrever e sobre o poder das palavras. Muito antes da informática e da facilidade de comunicação que os tempos modernos trouxeram, a humanidade já tinha a ilusão de que o ato de escrever, de expor e tentar formar opiniões, convicções era uma forma de melhorar mundo. Qual o quê. Nem antes e nem agora isso ocorre.

O mundo muda para melhor ou para pior independente das idéias que são escritas e expostas à reflexão dos outros. No máximo o ato de escrever serve para deleite do próprio e de alguns poucos que lhe passam a acompanhar a variação de opiniões.

Mesmo um Rubem Braga que escrevia e era admirado por muitos, uma vez disse: “escrevi milhares de crônicas e não creio que tivessem qualquer influência na vida política do meu país”.

Sem querer me comparar ao Rubem, lembro que quando passei a escrever neste espaço, mesmo que involuntariamente, acreditei nesta antiga ilusão de que escrever e ser lido poderia, de alguma forma ajudar a melhorar minha região. Pura infantilidade e presunção. Hoje, volto mais uma vez a concordar, com Braga quando ele diz que “no Brasil escreve-se para os colegas”.

Como não sou escritor, acho, que nem para os “colegas” escrevo. Acho que escrevo apenas para aprender, para aprofundar, conhecer e guardar. Fernando Sabino disse a Clarisse Lispector em entrevista reproduzida no livro com este título da escritora que “a verdadeira inspiração é aquela que nos impele a escrever sobre o que não sabemos, justamente para ficar sabendo”. Perfeito para mim, porque explica que a ânsia de escrever deriva do esforço do eterno aprender.

Não abandonei por completo, a idéia de melhorar as coisas e as pessoas através da escrita, mas hoje só vibro quando a escrita provoca reações, especialmente, as de discordâncias, pois assim, ela alimenta o debate, as discussões, a procriação de idéias e de críticas e mais que tudo: o antigo e eterno sonho que faz a gente insistir em ter um mundo que seja, ao menos, um pouco melhor.

Escrever pode ser relatar, mas também pode ser refletir em voz alta, pensar, propor e revisar, conceito e opiniões. Por isso, hoje vejo que este exercício serve menos aos “colegas” e mais para nós mesmos, porque através do que escrevemos conseguimos descobrir quem somos.

PS.: Como escrever tem também tem seus riscos, assumo o desconhecimento que me fez dizer, no artigo passado, que Campos não tinha nenhum atleta nos jogos do PAN. Os parabéns a Lara Teixeira pelo nado sincronizado, não invalidam, até pela inexistência da modalidade na cidade, os questionamentos e as propostas feitas para o desenvolvimento do esporte em nossa cidade.

Publicado na Folha da Manhã 4 de agosto de 2007.