14 agosto 2007

Enxugamento e qualidade nas empresas de ensino S.A.

Roberto Moraes Pessanha
Ex-diretor geral do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

O enxugamento de custos em universidades que possuem filiais em Campos tornou-se prática. Agora foi a vez da demissão dos coordenadores de curso. Este é o gestor mais próximo do professor e do aluno, na relação entre o cliente e o prestador deste tipo de serviço.

O coordenador é quem mais facilmente detecta e resolve os problemas, desde os mais simples, aos mais sofisticados, importantes e relativamente comuns, na relação ensino-apredizagem, que a despeito das inovações tecnológicas, ainda é desenvolvida entre humanos, mesmo que com a intermediação de máquinas. Fico imaginando que quem se importa, até com este tipo de custo, o que não deve fazer, ao avaliar o pedido de compra de livros para a biblioteca?

Por enquanto, a queixa maior é dos próprios, porque foram demitidos depois de realizarem o trabalho de distribuição de horários e turmas para o segundo semestre deste ano. Sendo assim, além de perderem as gratificações pelo trabalho de coordenação ficaram sem aulas para manterem, pelo menos parte, dos seus salários.

Interessante observar, que os atos de dispensa não podem, sequer, serem considerados demissão, com direito a indenizações, porque há algum tempo, as atividades de coordenação nestas instituições, já vinham sendo feitas, através de contratos temporários de prestação de serviços.

Dizem, que estas empresas de ensino ao fazerem estas chamadas “reestruturações produtivas” em suas gestões, estariam se preparando, para tentar entrar no mercado de ações (S.A.) onde o resultado esperado é sempre e exclusivamente, o financeiro.

Por parte dos alunos, um dos chamados “clientes” do prestador de serviço de ensino, pode ser que, só no médio prazo, eles venham a perceber, a redução da qualidade do serviço contratado.

Talvez, nem isto ocorra, se o objeto de seus desejos for, não uma formação de qualidade e sim, uma simples certificação ou diplomação. A identificação da má qualidade da formação só será detectada quando o egresso chegar, ao segundo “cliente” da universidade: o mercado de trabalho. Só que aí, a universidade S.A. já terá embolsado seu quinhão e usará parte dele, na mídia para manter sua marca em evidência, a despeito de reclamações individuais de um ou outro egresso.

O Ministério da Educação que tem como uma de suas atribuições, a regulação do setor com poder para autorizar, reconhecer e avaliar deveria acompanhar tudo isso mais de perto. Até porque, entre os itens de avaliação dos cursos universitários está a formação e a produção acadêmica de seus coordenadores. Bom também, que os futuros alunos destas empresas de ensino se informem mais a fundo sobre elas, antes de escolher, ou melhor, contratar seus serviços.

Publicado na Folha da Manhã em 10-08-07.