José, a análise e o analista
Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br
José anda acabrunhado. Nem a cerveja que gosta de tomar tem saboreado mais. Na última conversa que teve no boteco com os amigos há dois meses, José disse que gostaria de ser sociólogo ou antropólogo, só para tentar compreender, o que vem se passando em nossa sociedade.
José tem batido na tecla de que alguns valores ou, estão invertidos, ou ele está vendo coisas imaginárias. Às vezes acha que a lucidez - que ainda julga manter - possa ser reflexo do distanciamento do cotidiano que propositalmente tomou. José acha que esta distância pode estar permitindo ver coisas, que outros estariam fazendo questão de não enxergar.
José segue na sua análise, mais apropriada a um botequim, que a um texto de jornal ou da academia: “o município nadando em dinheiro, obras e serviços públicos de qualidade cada vez mais duvidosas com preços estratosféricos, inexigibilidades e... o que antes era imoral hoje engorda.”
Nesta angústia José acabou se deparando com escritos do antropólogo Gilberto Velho e viu lá uma luz que poderia iluminar uma ponte que ligaria o nacional, ao regional e especialmente, ao local: “a sociedade vive um círculo vicioso que vincula a impunidade à corrupção e esta à violência.” José se entusiasmou ao ler outra observação de Velho: “vivemos um momento em que faltam ao homem público exemplos de ética e honestidade.”
Apesar de concordar sobre a necessidade de exemplos, José (embora, meio perdido, ele só acha as coisas) acha que mesmo sendo verdade o fato, de que exemplos de ética e honestidade estejam longe daqui, ainda assim, não seria o caso de buscar governos paternalistas e populistas que a procura de gente de exemplos pode levar.
José, quando analisa menos e propõe mais, diz acreditar mais, na organização da sociedade para exigir mais transparência e controle das políticas públicas, do que em discursos ou pessoas.
Ainda sobre o cotidiano José não tem entendido o por quê da Câmara Municipal ter adotado como regra de procedimento, reuniões sigilosas com autoridades, cujas ações tiveram questionamentos sobre lisuras. José fica nervoso com alguns destes assuntos e chega a discursar: “a administração é pública, os recursos são públicos, então que história é esta de conversa reservada? Se for para ser assim, porque a Casa do Povo precisaria de espaço mais amplo e garboso como o do Fórum? Para entregar títulos de cidadania, fazer homenagens e outros convescotes do gênero?”
José tem se achado um cara estranho. Está procurando analista e uma bolsa “proba” que pague esta conta. Alega que há bolsas para tudo por quê não pra cabeça? José só faz questão de lembrar que depois não aceitará chantagem de quem queira lhe insinuar: “E agora José?”
PS.:Publicado na Folha da Manhã em 06 de julho de 2007
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br
José anda acabrunhado. Nem a cerveja que gosta de tomar tem saboreado mais. Na última conversa que teve no boteco com os amigos há dois meses, José disse que gostaria de ser sociólogo ou antropólogo, só para tentar compreender, o que vem se passando em nossa sociedade.
José tem batido na tecla de que alguns valores ou, estão invertidos, ou ele está vendo coisas imaginárias. Às vezes acha que a lucidez - que ainda julga manter - possa ser reflexo do distanciamento do cotidiano que propositalmente tomou. José acha que esta distância pode estar permitindo ver coisas, que outros estariam fazendo questão de não enxergar.
José segue na sua análise, mais apropriada a um botequim, que a um texto de jornal ou da academia: “o município nadando em dinheiro, obras e serviços públicos de qualidade cada vez mais duvidosas com preços estratosféricos, inexigibilidades e... o que antes era imoral hoje engorda.”
Nesta angústia José acabou se deparando com escritos do antropólogo Gilberto Velho e viu lá uma luz que poderia iluminar uma ponte que ligaria o nacional, ao regional e especialmente, ao local: “a sociedade vive um círculo vicioso que vincula a impunidade à corrupção e esta à violência.” José se entusiasmou ao ler outra observação de Velho: “vivemos um momento em que faltam ao homem público exemplos de ética e honestidade.”
Apesar de concordar sobre a necessidade de exemplos, José (embora, meio perdido, ele só acha as coisas) acha que mesmo sendo verdade o fato, de que exemplos de ética e honestidade estejam longe daqui, ainda assim, não seria o caso de buscar governos paternalistas e populistas que a procura de gente de exemplos pode levar.
José, quando analisa menos e propõe mais, diz acreditar mais, na organização da sociedade para exigir mais transparência e controle das políticas públicas, do que em discursos ou pessoas.
Ainda sobre o cotidiano José não tem entendido o por quê da Câmara Municipal ter adotado como regra de procedimento, reuniões sigilosas com autoridades, cujas ações tiveram questionamentos sobre lisuras. José fica nervoso com alguns destes assuntos e chega a discursar: “a administração é pública, os recursos são públicos, então que história é esta de conversa reservada? Se for para ser assim, porque a Casa do Povo precisaria de espaço mais amplo e garboso como o do Fórum? Para entregar títulos de cidadania, fazer homenagens e outros convescotes do gênero?”
José tem se achado um cara estranho. Está procurando analista e uma bolsa “proba” que pague esta conta. Alega que há bolsas para tudo por quê não pra cabeça? José só faz questão de lembrar que depois não aceitará chantagem de quem queira lhe insinuar: “E agora José?”
PS.:Publicado na Folha da Manhã em 06 de julho de 2007
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